Cerquem os emos!

sábado, maio 27, 2006

Hoje, entre um livro e outro, entre um e-mail e outro, entre uma notícia e outra, eis que me deparo com isso na IstoÉ® Online: "Cerco aos emos" (a matéria encontra-se abaixo e o link dela também). A matéria trata de uma nova tensão entre as tribos em São Paulo (tá... eu quero é novidade!). A diferença é que este “patinho feio” é odiado por todos os cantos que vá, seja nas faculades, nas escolas, nas ruas, nas casas... Mas porque odiamos tanto os emos e as emas? É preconceito? É, ao contrário, conceito? Uma opinião formada? Ou simplesmente antipatia voluntária? Odiamos os emos ou temos essa licença por parte daqueles que estão preparados para “pensar” por nós?

Nos setores médios da sociedade, os setores de pensamento medíocre – pessoas que tiveram acesso ao ensino e ao pensamento crítico, porém superficial, e geralmente cheios de certezas e verdades absolutas – humilhar, odiar gratuitamente não é novidade, é uma prática, me atrevo a dizer, em determinados contextos, comum. Esta esfera do pensamento médio, é por excelência aquela que converte os preconceitos em verdades absolutas – “todo político é ladrão”, é um dos exemplos mais representativos da dimensão de como funciona o pensamento médio: ignora as complexidades e pressupõe uma realidade única, um modo unilateral de ver e estar no mundo – embora eu concorde com a idéia que não estamos isentos de ter preconceitos, e, além disso, identificamos com muita facilidade o preconceito dos outros e nunca os nossos... Reconhecer o Outro é muito simples e óbvio, o suposto reconhecimento dos iguais também, mas reconhecer-se a si, crê este que vos fala, é tarefa quase impossível, são tantas máscaras que usamos que eventualmente elas acabam se confundindo com a nossa carne. Antes de continuar, devo dizer que eu não gosto dos emos, precisar o motivo eu não sei, talvez um emaranhado de tudo que enunciei acima e outras milhares de razões ulteriores. Não quero que eles desapareçam, é verdade, eles de fato não me incomodam, mas dá para entender porquê tantos não os suportam, e não vejo muita relação entre os gostos musicais e o lay-out.

Em primeiro lugar porque este estilo emo é uma tentativa de retorno, ou melhor é um movimento kitsch do que foi o mal du siècle no século XVIII e pequenas, na verdade mínimas, doses do sentimento de deslocamento e marginalidade, do desencantamento do mundo, da perda, da constante frustração e da náusea sartriana (quando eu disse mínimo eu REALMENTE quis dizer mínimo, pífio!) que norteou os existencialistas do século XX. A diferença é que a maioria dos emos não é intelectualizada embora, em geral eles se apresentem como grande coisa (isso também incomoda).

O problema não é a intolerância ao estilo ou o modo de ser emo, aqui na Bahia, por inzêmprio, os setores médios “odeiam de raiva” (oposição para uma expressão mediana muito utilizada nowadays, “amam de paixão”, conhecem?) os pagodeiros, arrocheiros (pessoas que escutam e freqüentam espaços que tocam o ritmo “arrocha” e cujos maiores representantes são os grandes Silvano Sales – O Rei do Arrocha, Márcio Moreno – O Príncipe do Arrocha, Tayrone Cigano – O Cigano (?) do Arrocha, Brazilian Boyz – Os Meninos do Arrocha, Nara Costa – A Rainha do Arrocha e Jennyffer – A Sereia do Arrocha. Curioso é saber que os donos de estabelecimentos “arrochados” também são donos de alguns considerados muito “chiques” pela burguesia medíocre, falida e média da minha querida Província da Bahia), a diferença entre os modos de conviver com a diversidade é que aqui, mesmo que comprometa o capital social curtir arrocha, pagode axé, bem como qualquer música que não se enquadre no quadro semântico dos setores médios, ninguém sai matando pagodeiro. Portanto, o problema está não no ódio ao emo, mas na intolerância desmedida, numa prática urbana deplorável, a não-aceitação do outro enquanto tal, uma vez que a nossa cultura é homogeneizada e homogeneizante e a força se encerra nos números, na maioria, mesmo que o nosso regime político seja o democrático, que supostamente deve preservar o indivíduo privado, ou melhor, a intimidade dos indivíduos, tanto do Estado, uma vez que eles por ele não recebem investidura protetora alguma, e dos outros indivíduos. Trata-se de um regime que respeita e, para além disso, incentiva a diversidade. Porém, o quadro que acompanhamos preocupa. Os emos e emas são apensa uma nuance de um problema muito mais complexo.

A repórter demonstra uma certa preocupação com emos, um sentimento de pena e condescenência, crê este humilde missivista que ela, ou é uma “ema” ou quis proteger os “coitadinhos” das perseguições dos “malvados”, toda a construção do texto se dá por este viés, portanto ela acaba concordando em algum momento que eles são crianças desprotegidas...

O problema não é o preconceito, mas as pessoas (aliás, “assim como são os seres humanos são também as pessoas”, pensem nisso!) insistem muito em combater os sintomas, em se prender a (maldita) ponta do iceberg, se fantasiar de politicamente correto e seguir achando que “errados são os outros”, que são sempre as vítimas e que também são os outros os pobres coitados. O mundo é cão, negada! E ninguém é santo, ta todo mundo lutando pra sobreviver, a gente vai matando urubu a tapa, cachorro a grito, jacaré a peteleco... nadando contra a maré e rezando pra não se afogar. É isso. Até breve, meus caros leitores invisíveis.

O cerco aos emos

Eles pintam os olhos e curtem rock
sentimental, mas costumam ser
alvos de chacota e até agressão

Por Marina Caruso

Donos de um visual peculiar – roupas pretas, franja, olhos pintados e acessórios fluorescentes –, os emos são a mais nova tribo em expansão entre os jovens de 11 a 25 anos. Seus membros não têm o menor temor de expressar seus sentimentos e até chorar.

São fãs de um rock chamado emotional hardcore, ou emocore, um heavy metal mais romântico e melódico. Por isso, a expressão emo de emoção. O injustificável é que o estilo dessa turma vem produzindo chacota e gerando atitudes intolerantes e até agressivas de outras tribos. Em São Paulo, na Galeria do Rock, antigo reduto de punks e metaleiros, os lojistas protestam contra a presença de membros do grupo. “É vergonhoso um lugar como este se tornar reduto de pivetes emotivos”, resmunga um vendedor. Em outra vitrine, um cartaz anuncia: “Proibido estacionar emos e emas.”

Para os adeptos, a reação se deve ao desconhecimento. “Nos chamam de homossexuais porque pintamos os olhos. Não sou gay, embora não tenha nada contra”, explica Henrique Nascimento, 17 anos, que se classifica como um “metrossexual extra-assumido”. Por questão de segurança, ele e mais 30 emos vão em bando à galeria. Uma das poucas meninas do grupo, Priscila Souza Lima, 15 anos, acha que a perseguição se deve à intolerância. “Tem muita gente que faz pose e nem conhece o emocore. Por isso não nos levam a sério”, diz. O estilo musical da tribo nasceu em Washington (EUA), nos anos 80, com bandas como Embrace e Rites of Spring. Segundo o vocalista do Sepultura, Derrick Green, se diferenciava do hardcore pelas letras. “Eram músicas pesadas, que discorriam sobre sentimentos românticos”, explica.

Hoje, a febre é acompanhada por debate e tensão. “Os emos são bebês chorões. Quando crescerem, morrerão de vergonha de ter se vestido assim”, declarou recentemente na MTV o apresentador João Gordo. “Tenho medo de dizer que sou emo e apanhar de um skinhead”, confessa um deles. A preocupação se justifica. Em abril, um jovem de 22 anos foi esfaqueado por carecas próximo a outro reduto paulistano, o Bar Du Bocage. Há quem diga que o motivo da agressão foi vingança, já que a vítima havia pertencido a uma gangue de skinheads antes de se converter ao emocore. Um absurdo, mas o bastante para deixar os emos cautelosos.


fonte: IstoÉ® Online

Matéria completa aqui:
http://www.terra.com.br/istoe/1910/comportamento/1910_cerco_aos_emos.htm

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