quinta-feira, novembro 24, 2016

Há dez anos os conflitos são os mesmos! Cruzes!
Bom que eu leio um texto de 2009 no qual eu, em algum momento, digo que "estou passando por um período complicadíssimo..." e fico mais tranquilo com os problemas atuais: se eu sobrevivi de lá até agora, hei de sobreviver aqui.

Escrever é bom. Se ler é bom. Se reler é ótimo.

Ser tolerante consigo - sem cair na auto condescendência - também.

sexta-feira, novembro 18, 2016

sim

Boca
Mão
Nariz
Mão
Pescoço
Voz
Olho
Boca
Nariz
Dedo
Não

A timidez.

Há uma passagem bíblica que diz que os tímidos não herdarão o reino dos céus... há, evidentemente, uma explicação teológica para isso, no entanto, como um tímido autêntico, posso assegurar que este tormento (um verdadeiro inferno) não está no porvir e nem é posterior ao juízo final: ele é atual, terreno, pertence a esta vida.

A origem das coisas

Não nasci tímido: fiz um curso intensivo já na primeira ou segunda infância e, ao longo dos anos, me graduei com honrarias. Com o tempo, me especializei na pior modalidade possível dessa arte: a timidez faladora. Conflito de uma vida: abandonar a timidez e a falação. Périplo. Mas tem fim... nem que seja o derradeiro fim que nos aguarda a todos nós.

O lado bom

O lado bom de ser tímido falastrão é que o que a maior parte das pessoas têm receio, eu lido numa boa: falar em público, desde que eu esteja preparado, é tranquilo. Por necessidade, aprendi o truque da "fé cênica"; respiro fundo e encaro o personagem. Claro que isso vale mais para situações específicas; palestras, cursos, aulas, reuniões importantes etc. Lidar com a timidez tem sido uma negociação constante - hoje, conto até ajuda profissional, ocasionalmente. Admito que venci parcialmente a timidez pela necessidade de viver - de trabalhar, pagar as contas etc.

Um simples "bom dia" já é um trauma sem tamanho. Uma conversa trivial com um estranho, então, um suplício: falta o ar, voz que fica travada, o corpo treme, aparece fraqueza de todos os lados. Ainda mais quando, depois de todo o esforço empreendido para encarar o leão de frente, o resultado não sai bem como o esperado. Piora ainda quando o resultado é desastroso. Reconheço que o desastre, muitas vezes, se limita a cabeça do tímido - nesse caso em particular, coisas simples podem detonar um hecatombe mental. Interpretações da realidade que jamais passariam na cabeça de um ser humano não-tímido são super, hiper significadas por um tímido: desde um franzido na testa, um jeito de olhar, um movimento nas mãos, um suspiro, um sorriso...

Anos de experiência me ensinaram que a timidez e ansiedade caminham juntas; o primo-irmão delas é o medo da rejeição. A saída mais conveniente, ou mesmo a única que se consegue conceber, diante do medo de ser rejeitado, é permanecer discreto, na concha, no quarto, no canto, em silêncio. Sobretudo, é permanecer à espera. De quê? De um chamado, de um convite, de um aceno. Uma espera eterna pra alguns.

Complicando a situação ainda mais, há também em alguns casos, pelo menos é o meu, um outro membro dessa família disfuncional: a curiosidade. Sim, para um tímido, o desconhecido é muito mais desconhecido do que para um não-tímido. Por isso, as coisas mais triviais incorporam um caráter de cruzada ou de jornada homérica. Fazer um novo amigo é uma aventura; flertar é um esporte radical. Falar em público seria algo como disputar e vencer um decatlo ou uma travessia do Oceano Atlântico a nado. Mas como conseguir fazer isso é aquela pergunta de um milhão de dólares.

Passei a vida escutando, quase como um mantra, que eu "deveria ser mais social" (sic) ou mesmo que meu isolamento poderia ser interpretado como arrogância. Incauto, desde cedo, eu segui esses conselhos e resolvi enfrentar a timidez falando - mas falando muito - apostando que isso daria um bom retorno. Ledo engano. Não se reverteu em novos amigos, muito pelo contrário: colhi inimizades e antipatias galore. Claro que ter morado numa terra árida (e para mim realmente árida), sem parentes conhecidos nem um "passado familiar" também ajudou a complicar o que já era complicado. Então tinha um quadro pouquíssimo favorável. Pronto: eis aí o duplo vínculo estabelecido. Muito bem estabelecido. E a pergunta que era de um milhão de dólares, agora é dois.

Claro que estou falando de coisas que aconteceram há 10, quinze, vinte anos (chamo carinhosamente de "the bully years"). Apesar de ter uma boa memória, acabei esquecendo de muita coisa (esquecimento conveniente), o pouco que sobrou eu guardo como um troféu (ou muitos) de resiliência e superação. Nos anos 1990, famílias e escolas não sabiam lidar com picardias infantis e nem com a perseguição sistemática e diuturna àqueles que divergiam do padrão, qual fosse. Foram anos bem chatos, mas que me ensinaram muito sobre tudo e sobre a a capacidade quase infinita que algumas pessoas têm para humilhar, agredir e assediar gratuitamente. Aprendi também que crianças, de modo geral, não costumam ter muito filtro, tem uma tendência quase natural ao exercício da crueldade. E parece que as crianças mais cruéis têm um radar para os tímidos (e diferentes), que passam a ser alvo fácil para o acosso. Então, o que era duplo vínculo, se torna um "triplo vínculo"! Virou um terreno fértil para variados traumas e situações que não convém descrever (elas estão caminhando à medida que a análise avança com minha psicóloga). Foi chato, mas passou. Me pós-graduou em timidez, mas passou.

Lá fui eu, investindo em inúmeras tentativas de superar a dificuldade da timidez foram muitas: desde fazer palhaçadas na tentativa de me apropriar das chacotas, até voluntariamente me expor ao ridículo, além de contar muitas, muitas histórias. Colecionando equívocos e vergonhas. Trabalhos em equipe eram um terror. Detestava. Como eu era semi-estudioso, geralmente em trabalhos de grupo, eu era disputado (oposto das aulas de educação física). E é óbvio que isso não ajudou. Até hoje não sei como não desenvolvi uma fobia social, porque o terreno também foi fértil para isso.

Claro que para compensar o inferno que era ser tímido (e fora dos padrões) eu fui descobrindo um mundo além daquele (a história de ficar na concha). Confesso que pensar num mundo além daquele que eu vivia era tarefa relativamente fácil: a cidade era árida, sem grandes aspirações, com pouca margem a ideias mais auspiciosas; tudo ali era limitado e limitante, por isso, o desejo de sair era um impulso tão forte e presente na minha rotina. Me descobri nerd (na época em que não era cool ser nerd), me apaixonei pela música, pela escrita, pelos mangás (que achei num livro de matemática antigo, no ano de 1993, apresentando explicações científicas sobre o tempo de leitura de cada página - não sei se isso se aplica ou se era conversa, mas o tal livro dizia que as páginas eram diagramadas para que se lesse tudo em no máximo 10 segundos). Fato é que eu descobri que minha companhia, tão indesejada para alguns, era ótima para mim mesmo. Descobri que eu gostava de cozinhar (as minhas primeiras incursões nesse universo foram um verdadeiro desastre, mas eu me diverti tanto!) e de escrever. Não resolvia o problema da timidez, mas pelo menos conseguia um conforto, um alento.

As soluções

A parte da falação eu resolvi parcialmente com este blog. Penso muita coisa. Escrevo o que posso aqui. Escrevo cartas para desconhecidos, que por qualquer acaso vêm parar aqui. Escrever demais é melhor do que falar demais. afinal, nem todos têm interesse, disposição, motivação (enfim, saco) para me escutar tagarelando sobre o que quer que seja.

No blog, tenho total liberdade: pode ser textão, textinho, uma imagem...

Por quase dez anos, com maior ou menor regularidade eu venho aqui desabafar, refletir, exercitar a escrita. Mas também venho me reler. Venho ter comigo um encontro... algo descrito naquele incrível conto de Jorge Luís Borges intitulado "O Outro". Me releio e me surpreendo comigo mesmo (para o bem e para o mal).

Depois do Facebook, e da vida corrida que eu levo, fiquei um pouco distante do blog, da leitura e da escrita. Mas, de uns meses para cá, por conta de várias razões, esses três elementos que sempre foram tão presentes na minha rotina voltaram de uma outra forma, mas que é igualmente intensa.

Prefiro escrever no blog. As vantagens do blog frente ao Facebook são muitas, mas, creio que a mais importante é que este é um espaço para o texto e que pede um certo silêncio na leitura e na escrita - não tem um monte de ícone piscando, janelas com chats aparecendo, nem múltiplas funções: é só alguém escrevendo de um lado e alguém lendo do outro. Isso também é bom, porque não preciso me direcionar a alguém especificamente.

De todo modo, não foi tão simples chegar até aqui; apertar o botão "publicar" era e ainda é doloroso. Ainda assim, não gosto de ficar muito tempo sem escrever. Chamo de escrita terapêutica.

Já quis ter um milhão de amigos para compensar a ausência deles na minha adolescência, mas hoje, os poucos mas bons me dão alegria, apoio e literalmente me sustentam. Nas guerras, conto com Deus e com os anjos que Ele colocou no meu caminho que são os amigos diletos. Casar também foi importante - é um outro tipo de amizade que também faz  muito bem.


Bom, por hora é isso. No próximo texto eu começo o meu:

O terror do tímido: O manual de sobrevivência ou o que não fazer nem sob tortura




O Google muda as políticas de cookies e eu perco em um dia todo meu histórico de visitantes... 10 mil passaram por aqui...

Fragmentos de um pensamento aleatório II

quinta-feira, novembro 17, 2016

Eu penso muito em voltar no tempo e refazer muitas coisas, em conversar comigo mesmo, me aconselhar, me proteger.

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Eu não acredito que a dor nos ensina.

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Era sozinho que eu vivia os momentos de liberdade, tranquilidade e leveza.
Era sozinho que eu testemunhava a beleza de um por-de-sol, de uma lua cheia.
Quando eu avistava a cidade do alto de um morro, ou mesmo quando ouvia uma música.
Ali eu sempre estive sozinho. Deveria ter sido mais sozinho e menos solitário.

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Quando criança, acordava muito cedo aos sábados e domingos e passeava pela casa em silêncio.

Fragmentos de pensamentos aleatórios I

Quando criança, acordava muito cedo aos sábados e domingos e passeava pela casa em silêncio. Essa era a minha vida: estar vivo no reino dos mortos ou ser um fantasma no mundo dos vivos. Tinha muita insônia; ela me trouxe o amor pela noite, pelos livros, pela gastronomia, pela música. Eu sempre me senti clandestino nas madrugadas, achava um comportamento subversivo (mesmo sem conhecer e nem saber o significado dessa palavra)