Metas para 2010

quinta-feira, dezembro 31, 2009

Trabalhar com artesania

Namorar os documentos

Ter mais atenção nas coisas

Viajar

Em Salvador....

sábado, dezembro 26, 2009

Tempo nublado e com cara de chuva... frio que me fez acordar cedo.

Mas é verão! Um sábado de praia... o que não deveria acontecer é ficar cinzento o céu de Amaralina. Se bem que desde ontem o céu está bem cinza e a brisa passou de fresca para fria. Não me incomoda - até gosto de um ventinho mais frio (para os padrões baianos, claro). As árvores (as poucas árvores de Amaralina) estão dançando, as cortinas da sala estão descontroladas. O prédio ao lado é de cor bege. Combinado ao ceú cinza faz tudo parecer a atmosfera de um sonho antigo. Nessa paisagem meio sem cor, apenas duas coisas teimam em ficar: uma camisa laranja na janela do apartamento vizinho e uma borboleta no muro do prédio ao lado. Todo o resto me remete a uma fotógrafia em sépia. Nessas horas, corre-se o risco de "quintanear" e assinar qualquer coisa com a data de 1774, já que fica a sensação de que tudo faz tanto tempo.

Hoje é dia de cuidar de coisas domésticas, sair com a família...

Ontem também foi um dia meio átipico, aliás, os dias desse ano podem ser descritos com essa palavra - para o bem e para o mal. 2009 pode ser descrito também, e pelo que percebi para muita gente além de mim, como o ano das encruzilhadas, de muito desencontro, reencontro, despedidas e encontros organizados pelo acaso. De desafios, de começos, recomeços, de confrontos. Um ano que pediu uma maturidade e jogou na minha cara (e na de muita gente) as limitações.... superar essas dificuldades ficou colocado como uma necessidade de sobrevivência e não como escolha. Seguir adiante, seguir sem medo é, como diz a amiga Juaquina, "tarefa quase impossível". Mas, no entanto, ficar é ainda mais doloroso.

Esse ano algumas de minhas certezas mais sólidas foram abaladas de modo profundo e minhas dúvidas saíram do estágio de fluidez e deslizamento para algo fixo. Líquido e certo.

Deus (ou como você preferir chamar sua Divindade predileta) abençoe quem inventou essa contagem (que mesmo boba) nos permite ordenar a vida em segundos, horas, dias, meses e anos, como se a passagem das horas pudesse ser medida por um relógio ou por um calendário, nos permite dizer que "ano que vem tudo será diferente, será melhor, mais feliz", nos permite ter esperanças e sonhos.

O ano que se mostra diante de mim, embora se exiba cheio de possibilidades em um nível quase narcotizante, já se apresenta, contudo, como algo passado, um amanhã que já é ontem. É tudo tão acelerado e tão cheio de luzes, brilhos, barulhos.... Por que nós aceleramos a nossa vida, como se acelerar resolvesse os problemas? Os carros devem ficar atrás dos bois.

O ano nem chegou e não sei se devo ter esperanças ou se devo desde já me decepcionar - ou criar esperanças falsas, temerosas. Prefiro ter as esperanças, mesmo que isso implique em pagar um preço mais alto, em me arriscar mais. De fato, a única certeza é que não dá pra ficar parado - a vida não espera. Já posso celebrar ter chegado até aqui em um ano tão cheio de reviravoltas, mudanças de rumo, quizilas, gíngis, consumições e tanficâncias. Quem sabe onde eu estarei daqui há um ano? Com quem? O que foi bom vai permancer aqui... mas há como saber precisamente o que é efetivamente bom ou ruim?

Os anos passados também viram tanta coisa passar (coisas boas, coisas ruins). Eu fui com eles, voltei com eles. Agora eu estou aqui.

Esse, repito, foi um ano que exigiu das pessoas superar problemas, vaidades, medos, vergonhas, limitações diversas, testou a humildade. Creio também que os preços serão cobrados em breve, assim como em breve virão as recompensas... as recompensas também cobram um preço, disso não se pode esquecer.

A encruzilhada está aí, não se pode ficar parado diante dela - afinal estamos vivos. Há quem pense que é a porta que escolhe o homem e que o caminho é sempre estreito, mas que alguns ficam cegos e enxergam-no como sendo largo. Há quem diga que é sempre o homem que escolhe o caminho. Há quem diga que não há caminho do meio. Há quem diga que só há o caminho do meio.

Não dá pra pensar, não dá pra respirar, só é permitido seguir em frente... sem nunca fechar as portas, mas sempre queimando as pontes. Sem ensaios, sem rascunho.

Eu vou ao seu encontro.

sexta-feira, dezembro 25, 2009

The fact that you are married, only proves you're my best friend.
(Pale Blue Eyes - Lou Reed)

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Me chame pelo meu nome
Me olhe nos olhos
Me desconcerte
Me desarme
Ignore minha guarda alta
Ignore minhas cicatrizes
Ignore meus medos
E meus pés no chão
Me torne outra vez um menino - me faça o seu menino
Me faça cafuné no final da tarde
Veja um por-do-sol comigo
Me tranquilize no meu despero
Me dê colo depois de um pesadelo
Apareça nos meus sonhos
Esteja comigo quando eu dormir
E me abrace quando eu acordar

He couldn't stay
He's back home, now.
Far away from where he wants to be
But either way
They belong together.
Will they ever meet again?

Correu o rio em meu rosto
Então, levai, Aqueronte,
Mais uma alma em vosso leito!
Afogai o corpo com vossa água
Apagai com água as feições
Calai a boca e silenciai a voz
Ensurdecei os meus ouvidos.

No fundo, na areia, fica a saudade
Nas margens um tímido adeus.
E que morra em vós toda a dúvida e toda a certeza
Quem o rio leva?
Já não me importa.
Eu já estava morto.

Um baiano viajante

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Do alto de minha arrogância, acredito que a vida é pontuada - como diria o sábio Barros de Alencar - "por pequenas coisas", pequenas experiências: comer aquele risotto acompanhado de pessoas bacanas, cozinhar para sua família, assistir aquele filme, um beijo... mas acima de qualquer coisa, acho que a vida é pontuada pelas nossas viagens.

Seja para a Índia ou para a cidade ao lado, viajar implica em se despir de muita coisa e se vestir de outras, já que "em Roma, fazemos como os romanos". É importante o desapego de nossa identidade... risos. Você sai da Bahia e, por exemplo, perde o nome e sua história de vida e se torna simplesmente "o baiano". Claro que até o final, devido às experiências partilhadas no intervalo de tempo que você vive fora, te devolvem o nome - ou até te dão outros - e te conferem uma (nova) história e aceitam a sua história de vida - com todos os filtros e bloqueios, lógico.

O mais importante, a meu ver, é que quando viajamos, nos é permitido alterar radicalmente a rotina, inverter as ordens. Alterar a rotina permite vê-la com outros olhos, percebê-la maior ou menor, simples ou complexa, terrível ou insignificante. De um modo ou de outro, ela é vista no todo - independente disso ser uma coisa ruim ou boa. Só por isso, viajar é algo fundamental para continuar se sentindo vivo, independente de onde ou dos motivos. Se volta diferente de uma viagem, assim como nos transformamos depois de um livro, de um filme ou de um disco. A viagem é capaz de potecializar também essas experiências.

Não se sabe com precisão qual o melhor momento da viagem - há quem diga que é a antecipação, a ansiedade; outros julgam ser mais importantes as experiências vividas e partilhadas nesse intervalo de tempo (aliás, o tempo, quando viajamos, parece ficar suspenso). Alguns votam pela saudade do que ficou e de quem ficou lá no outro porto; outros preferem o retorno, o reencontro. E isso vale para qualquer viagem - trabalho, férias, peregrinação religiosa.

Não consigo perceber com clareza qual o melhor momento, já cada viagem é como se fosse a primeira. Eu penso que a transformação se inicia (seja isso uma coisa boa ou não - isso não é relevante) no primeiro momento em que ela se materializa na forma de um desembolso financeiro para comprar uma passagem (o nome não poderia ser mais preciso) . Nesse momento se projeta tanta coisa... negociamos com os sonhos, com os nossos pés que teimam em ficar no chão (ou vice-versa) e com o mundo. O que levar na bagagem, o que não levar, quais as marcas, quais as idéias... quem se vai conhecer, quais os sabores, os cheiros, os perigos...

Toda viagem nos leva ao desconhecido, e consegue - mesmo que não se queira - superar "o muro e o abismo" que dele nos separa (como já dizia Clarice Lispector). Uma vez superado esse muro não somos mais quem fomos um dia - uma parte ficou olhando o abismo, outra caiu e outra conseguiu chegar do outro lado. Quem volta encontra consigo, mais do que os amigos, família, casa e rotina. Quando eu volto de uma viagem e me olho, mesmo que ao acaso, em um espelho, eu já percebo as (novas) marcas e vejo o que ficou para trás... mesmo que algo que ficou para trás teime em ficar. Além de fotos, presentes, trazemos essas marcas.

A última viagem que fiz foi ocasionada por um profundo desejo de superar problemas que eu - inocentemente - dei maior relevância e poder, por uma vontade de respirar e de aprender, mas acima de tudo, para avaliar e reavaliar. Fui sem antecipar. Fui sem restrições e de peito aberto.
Foram mais de 30 dias de experiências inesquecíveis, de grande aprendizado, de conselhos... eu observei muita coisa com bastante atenção (o que é algo relativamente difícil para mim), andei muito... conheci pessoas bacanas, cozinhei (e aprendi a fazer umas coisas de comer com lágrimas nos olhos), alimentei o nerd que vive dentro de mim assistindo clássicos da ficção científica.... voltei diferente - outra vez. Eu fui de um jeito e voltei melhor. O mais interessante é que em minhas duas despedidas no final dessas férias (farra um dia e jantar no outro), o adeus foi uma palavra condenada por mim... sequer veio em minha cabeça. Será que eu estou mudando até o que achei ser minha sina, dom e maldição? Se for, é bom.

Mesmo assim, dessa vez eu voltei faltando um pedaço...

Isso também é bom. Espero, muito em breve, retornar e pegar essa parte de volta.

sábado, dezembro 05, 2009

Foste tu em princípio um nome
Depois verbo: palavras e voz
Em seguida um rosto
Por fim, corpo
Dois corpos.

Eu passei umas tardes em itapuã

quarta-feira, setembro 23, 2009

Depois de um século e meio sem postar, eis que o vosso humilde missivista retorna tal qual o filho pródigo.

Este ano que vivemos tem sido sui generis. Isso no bom e no mal sentido, mas como diz o sábio eremita de Botafogo (sim, tio, é de você que estou falando), a realidade é mesmo esse "colapso de pobabilidades e possibilidades" e a graça é buscar formas de resolver e lidar com os desafios e as surpresas, sejam elas boas ou ruins.

Há mais ou menos uma semana eu terminei um trabalho e para minha surpresa, dois amigos meus que moram em Angola apareceram por aqui por Salvador. Pronto: foi o suficiente para eu tirar uns dias de folga, aproveitar pra estudar um pouco e, acima de tudo, relaxar, dormir, ouvir e cantar sambas antigos até a madrugada, rir. Coisas que eu estimo muito e nos últimos tempos me foi privado por conta das circunstâncias.

O local escolhido não poderia ser mais oportuno: Itapuã. Para quem não conhece, Itapuã é um bairro famoso, cantado por Caetano, Vinicius, Dorival, começou como uma colônia de pescadores, já foi um antigo complexo de rios e lagoas (aliás, salvador era um grande complexo de rios e lagoas), é bastante afastado do centro da cidade e só foi urbanizada em 1980. Era um bairro de veraneio, imaginem. É tão distante do centro que algumas pessoas até hoje dizem que "vão na cidade" quando precisam sair de lá.

Já morei em Itapuã e devo confessar que mesmo gostando de lá, algumas situações, como se diz aqui na bahia, eram verdadeiras consumições! Era uma atrapalhação sair e chegar! Horas, horas... pegar um taxi era impensável!

Exatamente por causa disso, Itapuã é um universo paralelo. O tempo corre de um jeito diferente (mais lerdo, eu diria), é como se fosse uma ilha, mesmo com todos os problemas de uma cidade. Lá tem tudo: mercados, bancos, lojas de todas as familias, gêneros, filos e espécies, restaurantes de todos os gostos e bolsos, praia, acarajé, samba, pagode, reggae, axé, rock, arrocha... Destaque para as coxinhas: coxinhas com massa de batata do "Kibe do Carmel" e do "Rei da Coxinha", esse último oferece ainda coxinhas de aipim com carne do sol e coxinhas exóticas de provolone com calabresa (tem uma franquia em Itinga também, lá na praça dos carangueijos - aliás, foi lá que provei essa iguaria incrível!).

Lá tem também um depósito que entrega cerveja, refrigerante, água, gelo, carvão e... cigarro! Imaginem? Que beleza! Acaba com aquele climão na festa quando algum desses itens acaba e aquele grupinho (ou aquele individuo) tem que sair para comprar mais. Para os que dispõem de um carro é ruim ma non troppo, mas e os que "andam de a pé"? Esse depósito é uma excelente sacada... qualquer dia desses passa no "Pequenas Empresas Grandes Negócios".

Outra coisa bacana que me ocorreu foi que puxaram conversa comigo (dessas do nada, em bar, sacam?), coisa que nunca mais me aconteceu. Conversas bobas, geralmente falando de infortúnios tragicômicos de si ou de outrem, mas foi bacana. Estava eu na vendinha da rua comprando mais umas cervejas, quando me perguntam: "Você não concorda comigo, meu jovem? Faria o quê no meu lugar? Eu vi uma senhora de 80 anos com um rapaz assim da sua idadem novinho... perguntei como vai sua vó e o cara me respondeu: 'é minha esposa'. Ahh, você queria o quê?" E daí a conversa rendeu, cada um relatando as suas experiências e rindo dessas bobagens. Me apressei com as cervejas (que troquei porque elas começaram a esquentar e na casa que eu estava o nosso freezer era um simpático iglu de isopor).

Quem mora lá e explora esse estilo de vida com certeza vive mais, ou vive com uma qualidade de vida melhor. Não sei se consigo me acostumar, gosto de ambientes mais rápidos e um tanto caóticos, mas é uma boa conseguir me refugiar sem precisar viajar ou sair em retiro espiritual. Agora, quem mora lá dificilmente sai do bairro (a não ser para trabalhar) e quando sai vai para perto (Lauro de Freitas, Itinga, São Cristóvão, Piatã, Praia do Flamengo, Stella Maris, Patamares - todos muito próximos). São 200 mil habitantes. É uma cidade.

Passar umas tardes e noites em Itapuã foi um presente inesperado, mas foi exatamente a lerdeza (não aquela das piadas de baiano, por favor, mas a tranquilidade de um lugar antigo e que ainda conserva algumas coisas de interior e de vila de pescador). Me fez bem.

Cheguei na terça-feira, de mala e tudo. A casa ainda não tinha energia elétrica, ficamos todos a luz de velas e de lanternas de canivete suíço (made in bahia, i guess ha-ha!). Mas como estava todo mundo naquela maresia, estava bom. A luz chegou só na sexta-feira. A farra envolvia apenas cinco pessoas (pensando bem, eram cinco pessoas com cinquenta dentro delas ha-ha), mas rendeu bastante. Haja samba antigo, James Brown e Fella Kuti. Até Elizeth Cardoso (a divina, como diriam os cariocas) com o "Barracão no morro" e "Renascer das Cinzas" a gente ouviu - incrível o que um ipod, uma caxinha de som e pilhas (muitas delas) podem fazer.

Posso dizer que tentei mandar todo o stress para o espaço. Por alguns instantes tudo estava perfeito: eu cantei, sambei e ri. E foi bom. Entrei um caco, mas como diria o caro martinho, "sambar de azul e branco é o nosso papel".
Vamos renascer das cinzas
Plantar de novo o arvoredo
Bom calor nas mãos unidas
Na cabeça um grande enredo
Ala dos Compositores
Mandando o samba no terreiro
Cabrochas sambando
Cuica roncando
Viola e pandeiro
No meio da quadra
Pela madrugada
Um senhor partideiro
Sambar na Avenida de azul e branco
É o nosso papel
Mostrando pro povo
Que o berço do samba é em Vila Isabel

Porque eu gosto (tanto) dos taxistas...

segunda-feira, maio 25, 2009

...porque eles nos são pérolas como essa:

"...e você sabe o que eu descobri? Que spaghetti era macarrão!!!" Impagável!

Se bem que toda a simpatia e bom-pracismo que os taxistas baianos têm, os cariocas não tem, ou melhor, tem até você tentar ensinar qual o endereço...

O garoto do adeus

quinta-feira, maio 07, 2009


Estou treinando para ser frasista. Quem sabe um dia? Estudando e comendo bastante arroz com feijão, eu chego lá!






Às vezes me pego pensando se quem me abandou ainda se lembra de mim, se lembra do som de minha voz... às vezes fecho os olhos e estou com o olho no caminho, estou olhando o mar em um dia de verão chuvoso, estou a espera de alguém que não vem mais. Vivo também o oposto, a sitaução de alguém que vai e não volta, deixa alguém pelo caminho. Não tenho medo de me despedir, mas dói o mesmo tanto toda vez. Nem sempre ficar é melhor, nem sempre partir é melhor. Nem sempre se sabe dos preços de um e de outro, nem sempre se controla quem vai e quem fica. Existe também um rio que me separa de todas essas coisas... tudo ficou perdido em uma mar de lembranças. Tudo está onde deveria estar.

"Eu sou o garoto do adeus!"

A primeira vez que disse isso em sã consciência eu tive, ao me ouvir dizendo essas palavras, uma sensação que não sei dizer ao certo se foi boa ou ruim - talvez realmente existam coisas que não sejam nem boas nem ruins, que apenas são e nada além disso (alerta: nada de problemas da metafísica!). O fato é que me lembrei de quantas vezes eu já disse e ouvi adeus por uma infinidade de razões. Isso sempre volta de alguma forma em tudo que eu faço, seja nos textos, nas conversas e até mesmo nos trabalhos. Aqui no blog há uma série de pequenos indícios dessa sensação. Não pela saudade de quem ou o que se foi, mas pelo ato de ir embora.

Claro que na hora não pensei direito no que havia dito, mas na hora de dormir fiquei pensando, o dia amanheceu, tomei banho, café e isso ainda na minha cabeça. Primeiro fiquei pensando se sumir não seria um ato covarde (com ou sem despedidas), depois se não era por incapacidade de perdoar. Eu não estava em casa. Me coloquei na parede, desafiando a memória em busca de nomes, de rostos, de fatos, de raivas, de brigas, de momentos felizes, de momentos tristes. Assim eu levei por mais duas semanas, até o dia de voltar para casa.

Nos dias que eu estava fora eu vivi situações muito bacanas, estava em uma cidade linda, conheci pessoas legais, vi um google earth hiper-real (é uma coisa de louco mesmo, George!), mas principalmente, por me reaproximar de um tio meu que não via há quase 13 anos (vi ano passado, mas foi rapidinho, então não conta!) e fui reconstituíndo uma parte de minha vida por outros olhos. Não foi uma coisa epifanica, não é para tanto!, mas foi importante para que eu entendesse esse meu desapego com determinadas coisas e como tem correntezas que me levam, mas que algumas vezes eu me jogo no mar. Eu voltei diferente e todo mundo percebeu. Eu percebi.

Ficar e partir dependem do ponto de vista. São sempre dois os portos, as estações, os aeroportos, a estrada leva a algum lugar. Eu, por algum motivo, gosto simplesmente de seguir em frente, os portos de chegada são apenas para me descanso. Gosto de pensar que ainda não fiz minha viagem e que talvez nunca a faça, mas, ao mesmo tempo, que ela pode acontecer a qualquer momento... (nota do blogueiro: cabeça complicada e cheia de digressões, tenham paciência).


É como se eu morresse, como se todos também tivessem morrido e dizer essa palavra tão definitiva me fizesse acordar em uma nova vida. Algumas vidas são melhores que as outras, mas com exceção das saudades e de algumas marcas, pouco ou nada fica delas. Algumas duram mais, outras duram muito pouco. Muitas vezes é tudo tão involuntário que só percebo que tudo mudou muito tempo depois.

A primeira vez que eu "morri" foi aos cinco anos, quando me mudei de Salvador para Jequié. A mudança foi estranha, depois de me mudar três vezes em apenas 3 anos, finalmente iria para um lugar que eu moraria por 12 anos, me mudaria outras 3 vezes. O dia de arrumar as malas, ainda aqui em Salvador, teve sua cota de surrealidade, mas foi a chegada que me marcou muito. Lembro de três coisas da viagem: de um iogurte, de uma senhora idosa que conversou alguma coisa comigo (eu sempre fui conversador) e da quantidade enorme de morros que cercava a cidade.

Fazia calor. Chegamos no lugar que seria nossa casa por alguns meses: era uma casa pequena em um terreno enorme, com apenas um quarto, uma sala/cozinha e um banheiro. O piso era de cimento queimado de variadas cores, mas predominava o vermelho.

Ao abrir a porta a visão era perturbadora: poucos cômodos, todos pequenos, muitos móveis, todos grandes. Muita bagunça. Meu irmão recém-nascido chorava. Meu pai não estava em casa. Minha mãe ficou sentada processando aquelas informações. Vovó puxou uma faxina... lembro de imaginar que ao final da faxina tudo estaria arrumado, bonito... lêdo engano. Talvez minha primeira grande decepção. A casa era feia. No quintal, um grande tanque, uma gigantesca aboboreira e uma pimenteira - dedo-de-moça.

A paisagem era seca, eu guardava com saudade as lembranças de meus colegas da escola (que me fizeram uma série de desenhos, cartinhas e coisas que não sei bem dizer o que eram, mas tinha tinta, linhas, cola...). A saudade aumentou quando eu entrei na nova escola. Lembro bem do dia que fui na escola a primeira vez. Entrei na escola do meio para o fim do ano e pulei da "prontidão" (ainda chama assim?) para a alfabetização. Lembro de ter visto algumas crianças correndo, já sem farda (era período da tarde e lá só tinha aula no turno da manhã). Hoje, eu não sei mais quem elas são, mas pro alguns anos eu ainda lembrava, sei que foram pessoas que eu convivi depois, não eram da minha sala, mas eram de algum modo próximos. A chegada na escola foi algo terrível: meio do ano, cidade nova, sem parentes, primos, e um detalhe: todo mundo era rico, achava ou queria ser! Ficar deslocado era algo bem previsível.

Nem preciso dizer que não fiz muitos amigos... lógico que eu sempre fui chatinho (continuo sendo, acho! haha). Os três primeiros dias de aula deram o tom dos 12 anos seguintes - foram doze anos de purgatório, hormônios da adolescência, um divórcio malamanhado e situações de Lars Von Trier a Buñuel. Entrei pela porta dos fundos e saí pela janela e depois pulei o muro.

No primeiro ano eu sentia muita saudade de meus amigos daqui. Com o tempo a saudade deu lugar a outra coisa: eu me imaginava encontrando com eles ou me imagina ainda em Salvador, como se tudo não passasse de um horrível pesadelo... aliás algumas das poucas lembranças são piores do que muitos pesadelos. O tempo passou e assim como a saudade (e a falta que eu sentia dos primos, da casa antiga, do passeio no shopping, da praia) passou, esse desejo de "não estar lá" também se foi. Primeiro ficou um vazio, depois eu me encontrei com coisas que fizeram da minha vida mais interessante: HQs, desenhos animados, legos, playmobil e os livros.

Pouco depois me mudei de casa e, sem perceber, sumi da vida de meus primeiros vizinhos, mesmo morando no mesmo bairro, sem contar que eu sempre gostei de andar, mas simplesmente sumi. Não lembro mais dos nomes nem de como eram as pessoas, o som da voz, o que faziam. Mas esqueci isso pouco tempo depois de ter sumido. Tenho alguns flashes, mas tudo parece ser ora sonho, ora pesadelo e não como algo real.

Nesse período eu mudei muito pouco, se bem que podemos até ter a consciência da mudança, mas determinadas coisas são desveladas com o tempo, do nada fica tudo claro, óbvio, simples. Foram basicamente quatro, todas silenciosas, todas dolorosas, todas igualmente importantes com seus erros (que foram muitos) e seus acertos.

Essas "mortes" acompanharam minhas mudanças de casa, foram pouco radicais, mas em cada uma delas a única coisa que crescia era a vontade de viajar, conhecer lugares pessoas. A exceção foi última, que foi quando eu percebi meu desapego com algumas coisas e comecei a perder algumas amarras, me percebi "morrendo". Em uma das muitas madrugadas de insônia eu estava ouvindo música e me preparando para vir embora quando eu me dei conta que eu jamais veria a minha casa outra vez, meu quarto nada mais seria uma lembrança, e que tudo que eu vivi ali de bom e de ruim em breve pouco importariam, mas principalmente, eu iria embora.

No dia seguinte, o último dia, houve uma despedida, encontrei por acaso com alguns colegas da escola e começamos a beber em um lugar bem trash e depois fomos para outro mais trash ainda. Eu bebi demais, bebi até dormir... acordei na hora de voltar pra casa.

As malas estavam prontas, olhei a casa, tomei um banho... de algum modo eu desejei estar em todos os cômodos (essa já era maior! Cabia os móveis!), quis gravar cada momento, o sabor das acerolas, o cheiro das hortelãs, o cantinho da palmeira, as buganvílias, o cheiro de flor de maracujá... Eu sabia que os anos que viriam seriam duros, e principalmente os primeiros, era uma vida nova e até então desconhecida. Separei meus discos, separei minhas revistas, conferi as roupas. Lembrei quantas vezes eu desejei que aquele dia chegasse. O dia chegou, coloquei as coisas no carro e saí de lá como eu cheguei, em silêncio, curioso e olhando para os morros.

Passei no vestibular e ganhei... um ano de férias! Nesse período eu fui conhecer a cidade: fui a alguns teatros, conheci as feiras livres (comprei, comi, bebi, o escambau!), conheci o subúrbio ferroviário, fui no aeroporto (ainda não tinha ido depois da reforma), conheci o bairro Santo Antônio, conheci as viela de Itapuã. Começava ali um período difícil, mas ao mesmo tempo muito feliz, de grandes descobertas e... grandes despedidas seguidos de grandes esquecimentos.

Eu morri, eles também morreram. Já não importa mais. E o agora, será que vai importar? E o que virá depois? Nada importa. Talvez por isso tudo seja sempre tão especial... ver que tudo é especial dá trabalho porque complicamos tudo. Uma vez disse aqui que eu não queria o simples. Hoje eu matei aquele que escreveu aquilo: quero o simples. Não quero ter razão, quero resolver as coisas... As pedras sempre vem, mas tem sempre alguém para me ajudar a não cair ou a levantar, nem que seja eu mesmo!

Por um tempo eu imaginei que essa sina da despedida, dos desencontros, das partidas e do abandono fosse triste. Hoje eu já não sei. Ou será que eu sei?

Eu sou o garoto do adeus: eu sempre sumo, muitas vezes sem me despedir, eu me esqueço de tudo e ando. Deixo pelo caminho com o mesmo cuidado ou total ausência dele as raivas, os dissabores e as boas lembranças. Jogo em um rio de forte correnteza os rostos e os donos de seus rostos. Eu também sou como essa água. Eu disse adeus a minha família, a amigos, a sonhos, a casas, a coisas, disse adeus a mim mesmo. Eu também ouvi essa palavra ou fui abruptamente separado inúmeras vezes. Ainda passeio pelo mesmo lugar todos os dias 27 e 28 de dezembro esperando alguém que não virá, ainda espero uma visita que não vem.

Nunca aos domingos!!!!

quarta-feira, março 25, 2009


No dia 19 de março de 2006 eu decidi, mais uma vez, criar um blog. Era mais um entre centenas de blogs que eu havia criado e depois abandonado (e que estão perdidos em algum lugar da nuvem da internet!). Dessa vez o que motivou a feitura de um cantinho no ciberespaço foi um conselho de alguém muito próximo. Que conselho foi esse? Bom, me disseram que eu falava demais (ha-ha! Mas é verdade: eu falo demais, mesmo!). Na hora, retruquei meio ouriçado e disse "que eu tinha muito a dizer". "Então escreva, ora..."

O dia 19 de março de 2006 foi um tedioso domingo (aliás, como são todos os domingos), eu morava na mitológica e longínqua terra de Itapuã, portanto, toda e qualquer tentativa de sair no domingo era sempre um movimento delicado e complicado... Tudo era motivo para esquentar a cabeça, era sempre um aborrecimento: horário, ônibus, o que fazer, onde ir.... lembrando que eu teria uma ingrata manhã de segunda em poucas horas! Então, era normal passar os domingos em casa pela manhã, ir ao cinema no meio da tarde, baixar e escutar música, assistir as reprises dos seriados... eventualmente passava um filme bacana na faixa das 10 da noite.

Exatamente por isso, eu não tinha o costume de ver meus amigos aos domingos, de sair pro reggae... só que que, de certa forma, eu me habituei com essa rotina.
No fatídico dia 19 não posso dizer que eu estava no tédio absoluto: como estava só em casa, passei o dia ouvindo música - especificamente o "OK Computer", do Radiohead, "Transa", do Caetano e "Racional", do Tim Maia - comprei umas cervejas e fiz uma comida legal, tava bem empolgado. No entanto, chegou uma hora que deu vontade de conversar com alguém, trocar idéias com pessoas, beber as cervejas... E nessas horas todo mundo some (ha-ha): ninguém no messenger, nem uma notícia interessante, na TV só reprise, ninguém em casa para falar por telefone... foi aí que me lembrei do tal conselho e resolvi escrever e colar coisas quaisquer que eu gostasse! Eu comecei 7 da noite e varei a madrugada! O tédio havia acabado...


É isso aí.... já se vão quatro anos, com relativa assiduidade do missivista-blogueiro que vos escreve, de muitos desabafos, piadas, reflexões, músicas... Que maluquice! Não parece! Os anos passaram correndo, contudo não passaram ao largo. Acabei de me dar conta que do meu primeiro post até agora tanta coisa aconteceu, eu viajei, conheci lugares, conheci pessoas, iniciei e encerrei etapas, círculos, fiz trabalhos, aprendi, vivi, evidentemente, inúmeras situações surreais, aventuras e desventuras dos mais diversos tipos e calibres... e uma sensação muito boa é saber que está documentado aqui ou, no mínimo, que tudo foi testemunhado pelo que está postado aqui! Não costumo ler as coisas que eu escrevo, a não ser para revisar, mas hoje eu reli todos os textos (e realmente alguns são meio longos... haha!) e fui longe...

Como todos aqueles que sempre desejaram ter um blog pra chamar de seu, até este aqui foram várias tentativas, vários blogs... Mas aí, a gente enjoa, cansa, fica com preguiça e acaba deixando de mão! Depois disso, vão todos para a nuvem da internet e só podem ser recuperados se estiverem no cache de algum motor de busca, do contrário, não voltam mais... os que não são deletados ficam pegando poeira virtual, com o post mais atualizado falando da primeira eleição do Lula ou da "grande novidade" que é o audiogalaxy (um antigo programa/ comunidade virtual P2P que reinou entre 2000 e 2001, quem lembra vai entender a piada).

Antes de construir o por inzêmprio eu tive uma infinidade de blogs - coletivos ou individuais - e todos acabavam indo pelo mesmo caminho... shift + delete! Mas eis que este aqui eu consegui trazer até agora. Não tenho uma intenção com ele que não seja limpar minha cabeça e dividir com quem quer que seja, minhas experiências, sejam amigos ou desconhecidos.

Há quatro anos, sempre que possível, eu venho aqui conversar não-sei-com-quem, limpar a cabeça, dizer algo mesmo que ninguém leia (e me deixa surpreso saber que tem quem leia, que mande e-mail, que comente, sejam amigos ou desconhecidos!). Acreditem, é uma coisa muito bacana! Está tudo aqui. O blog é o meu companheiro fiel das noites de insônia, dos dias estressantes, dos dias de alegria e vitórias, dos aborrecimentos. E sabe-se-lá-quem é meu leitor, mas, sendo bem sincero, isso não me importa muito, mas ainda assim eu fico feliz em saber que tem gente que vem aqui e lê o que eu escrevo!

Antes de me despedir, coloco aqui alguns vídeos muito bons que encontrei no youtube!

Frankito Lopes:


Carlos Alexandre


Vicente Celestino


Fernando Mendes


Agora vou me chegando e vou pegar os caminhos de Aruanda...

Colunistas Convidados

sexta-feira, janeiro 16, 2009


Olá, meus caros leitores invisíveis. Hoje o blog tem a satisfação de receber uma crítica enviada pelo meu amigo Vinho, crítico amador como este que vos escreve com escassa regularidade. Espero que gostem.

Rewind:Karen Carpenter


13/01/09
Foram necessários 16 anos de dura insistência dos fãs para que o álbum solo da Karen Carpenter (1996) fosse finalmente lançado (na íntegra) pela A&M Records. Anteriormente, 4 faixas (re-editadas) deste disco acabaram entrando no set list do disco 'Lovelines' (1989) dos Carpenters e mesmo recebendo comentários amistosos no encarte do próprio Richard, nem ele, nem a gravadora se encorajava a lançá - lo.

Por qual motivo?

Diz a lenda que em 1979, enquanto Richard Carpenter se tratava numa clínica psiquiátrica em Kansas devido ao uso contínuo de soníferos (!), Karen decidiu viajar para Nova York, dando início às gravações do seu disco solo, juntamente com o produtor Phil Ramone e Rod Temperton (Na época, muito elogiado por seu trabalho com o Michael Jackson em "Off The Wall"). A idéia era fugir ao máximo do formato padrão já estabelecido pelas gravações anteriores feitas por seu irmão, então é perceptível que os temas das letras são mais maduras, mais femininos, e finalmente, Karen pôde assumir o controle total do rumo do seu disco, experimentando estilos musicais não usados em um disco dos Carpenters.Os arranjos são mais jazzísticos, com bastante cordas e metais, inclusive a banda do cantor Billy Joel participou ativamente desta produção, e o Peter Cetera (ex- Chicago) emprestou a sua voz na faixa 'Making Love In The Afternoon'. Karen teve a oportunidade de usar a sua voz com um registro maior, abusando de notas mais altas e mais longas nas faixas, e sozinha, usando diferentes tons.Impressionante solo de Fender Rhodes em 'Lovelines', e uma sessão de metais pra ninguém botar defeito em 'If I Had You'.Inclusive, a mais excitante e grande ponto álbum do disco.Rod Temperton fez um arranjo vocal extraordinário, com o qual, Karen usa todo o seu domínio com precisão.

Tinha tudo pra dar certo, até que o Richard escutou o disco com o Herp Albert (produtor executivo da gravadora) e não gostaram da nova guinada na carreira e da proposta apresentada pelo disco. Apesar da super produção e de músicos e compositores renomados, temiam que o disco não agradasse e a imagem da Karen fosse arranhada. Com isto, o projeto acabou sendo engavetado, e os irmãos, reunidos outra vez, lançaram o último ( e bem sucedido) como dupla, "Made In America" (1981).

O álbum solo da Karen Carpenter até hoje divide opiniões. Eu, particularmente, quando o escutei, fiquei encantado, acima de tudo, pela nova faceta mostrada neste disco. A cada dia que escuto, coisas novas descubro. É claro que há faixas que não me agradam, mas pelo conjunto da obra, acerta em cheio!

Infelizmente, a A&M/Universal decidiu retirá - lo de catálogo, talvez por estratégia, quanto mais difícil de encontrar, mais valorizado o produto fica. O disco, quando foi lançado em Outubro de 1996, teve o mínimo de divulgação possível, talvez prevendo as duras críticas que receberia, e de fato recebeu...

Quem teve a oportunidade de escutar o álbum póstumo "Voice of The Heart" (recomendo) dos Carpenters, pôde ouvir a canção 'Make Believe It's Your First Time" produzida pelo Richard Carpenter, com a participação do "Ok Chorale" fazendo os vocais...No álbum solo, você pode conferir uma versão mais intimista produzida pelo Phil Ramone (e com um registro vocal maior) da Karen e ter a sua própria opinião, e entender as "diferenças" entre as visões de uma mesma música por produtores diferentes.

Aqui, o link para conhecer o álbum da Karen, e baixá - lo na íntegra!

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confira a casa dele: www.fotolog.com/meucarovinho