Em Salvador....

sábado, dezembro 26, 2009

Tempo nublado e com cara de chuva... frio que me fez acordar cedo.

Mas é verão! Um sábado de praia... o que não deveria acontecer é ficar cinzento o céu de Amaralina. Se bem que desde ontem o céu está bem cinza e a brisa passou de fresca para fria. Não me incomoda - até gosto de um ventinho mais frio (para os padrões baianos, claro). As árvores (as poucas árvores de Amaralina) estão dançando, as cortinas da sala estão descontroladas. O prédio ao lado é de cor bege. Combinado ao ceú cinza faz tudo parecer a atmosfera de um sonho antigo. Nessa paisagem meio sem cor, apenas duas coisas teimam em ficar: uma camisa laranja na janela do apartamento vizinho e uma borboleta no muro do prédio ao lado. Todo o resto me remete a uma fotógrafia em sépia. Nessas horas, corre-se o risco de "quintanear" e assinar qualquer coisa com a data de 1774, já que fica a sensação de que tudo faz tanto tempo.

Hoje é dia de cuidar de coisas domésticas, sair com a família...

Ontem também foi um dia meio átipico, aliás, os dias desse ano podem ser descritos com essa palavra - para o bem e para o mal. 2009 pode ser descrito também, e pelo que percebi para muita gente além de mim, como o ano das encruzilhadas, de muito desencontro, reencontro, despedidas e encontros organizados pelo acaso. De desafios, de começos, recomeços, de confrontos. Um ano que pediu uma maturidade e jogou na minha cara (e na de muita gente) as limitações.... superar essas dificuldades ficou colocado como uma necessidade de sobrevivência e não como escolha. Seguir adiante, seguir sem medo é, como diz a amiga Juaquina, "tarefa quase impossível". Mas, no entanto, ficar é ainda mais doloroso.

Esse ano algumas de minhas certezas mais sólidas foram abaladas de modo profundo e minhas dúvidas saíram do estágio de fluidez e deslizamento para algo fixo. Líquido e certo.

Deus (ou como você preferir chamar sua Divindade predileta) abençoe quem inventou essa contagem (que mesmo boba) nos permite ordenar a vida em segundos, horas, dias, meses e anos, como se a passagem das horas pudesse ser medida por um relógio ou por um calendário, nos permite dizer que "ano que vem tudo será diferente, será melhor, mais feliz", nos permite ter esperanças e sonhos.

O ano que se mostra diante de mim, embora se exiba cheio de possibilidades em um nível quase narcotizante, já se apresenta, contudo, como algo passado, um amanhã que já é ontem. É tudo tão acelerado e tão cheio de luzes, brilhos, barulhos.... Por que nós aceleramos a nossa vida, como se acelerar resolvesse os problemas? Os carros devem ficar atrás dos bois.

O ano nem chegou e não sei se devo ter esperanças ou se devo desde já me decepcionar - ou criar esperanças falsas, temerosas. Prefiro ter as esperanças, mesmo que isso implique em pagar um preço mais alto, em me arriscar mais. De fato, a única certeza é que não dá pra ficar parado - a vida não espera. Já posso celebrar ter chegado até aqui em um ano tão cheio de reviravoltas, mudanças de rumo, quizilas, gíngis, consumições e tanficâncias. Quem sabe onde eu estarei daqui há um ano? Com quem? O que foi bom vai permancer aqui... mas há como saber precisamente o que é efetivamente bom ou ruim?

Os anos passados também viram tanta coisa passar (coisas boas, coisas ruins). Eu fui com eles, voltei com eles. Agora eu estou aqui.

Esse, repito, foi um ano que exigiu das pessoas superar problemas, vaidades, medos, vergonhas, limitações diversas, testou a humildade. Creio também que os preços serão cobrados em breve, assim como em breve virão as recompensas... as recompensas também cobram um preço, disso não se pode esquecer.

A encruzilhada está aí, não se pode ficar parado diante dela - afinal estamos vivos. Há quem pense que é a porta que escolhe o homem e que o caminho é sempre estreito, mas que alguns ficam cegos e enxergam-no como sendo largo. Há quem diga que é sempre o homem que escolhe o caminho. Há quem diga que não há caminho do meio. Há quem diga que só há o caminho do meio.

Não dá pra pensar, não dá pra respirar, só é permitido seguir em frente... sem nunca fechar as portas, mas sempre queimando as pontes. Sem ensaios, sem rascunho.

Eu vou ao seu encontro.

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