Depois do stress do II Encontro de Estudos Multidiscplinares em Cultura - ENECULT, do cansaço, veio uma insônia dessas terríveis! Preferi utilizá-la a meu favor e aliviar as tensões escrevendo.
Mexendo na minha estante eis que me deparo com 3 livros bem interessantes, cada um a sua maneira, óbvio. Enquanto folheava um e outro, resolvi postaer aqui essa dica:
O primeiro, Sonoro, é um livro-manifesto homônimo do poeta Jorge Salomão, e é repleto de poesias que exaltam o som das palavras e o sentido vai sendo construído a medida que elas vão reverberando (ou na mente de quem lê em silêncio ou quem lê em voz alta). Possui um tom leve e descomprimissado, ideal para os fins de tarde ou madrugadas de insônia.
Já o segundo é um livro técnico, O Local da Cultura, do crítico indo-britânico e medalhão Homi Bhabha. Esse livro consumiu um ano de minha vida, tamanha a dificuldade de compreender o que era dito, a escrita de Bhabha é complicada, imagina uma tradução?! Apesar disso, considero o livro indispensável para qualquer um que deseja compreender a contemporaneidadee seus paradigmas regimentadores. E depois, nem tudo precisa ser simples para ser legal. Ainda preciso reler algumas partes, talvez eu poste algum material tratando, com calma, o livro.
O terceiro, e meu atual favorito, é Memorial do Convento, do poruguês José Saramago. A cada página eu me encanto mais com o texto, e hoje nessa onda de desencantamento do mundo, perceber-se encantado é algo que deve ser celebrado. O romance narra a história de Baltazar Sete-Sóis, Blimunda e do Padre Lourenço, e dois projetos: o primeiro é a contrução do Convento de Mafra, o pagamento de uma promessa feita por el-rei para ter um filho, e o segundo é a contrução da Passaróla, uma "máquina de voar" que o Pe. lourenço sonha em construir e conta com o apoio do casal Sete-Sóis e Sete-Luas.
O livro trás a luz a todos os exageros da coroa portuguesa e da forte influência da Igreja e de como a situação social nas cidades portuguesas era incompatível com o aparente quadro opulente da coroa: enquanto o povo passava fome, el-rei tinha mais de 20 funcionários para despí-lo. São elementos presentes no texto o sonho, a atmosfera mística, a questão do olhar e ver além das aparências.
Apesar do tom surrealista (e de realismo fantástico), é feita uma dura crítica, haja vista a constante ironia e os exageros por parte do autor feitos no intuito de explicar e desconstruir e desmistificar o mito da (hiper)identidade portuguesa, égide sob a qual ainda hoje portugal fecha sua identidade, reconhece a si própria como grande potência mundial injustiçada e vítima de inúmeros azáres históricos, e reforçou uma falsa identidade na qual o mito de si próipria é duplicado, impedindo com que seja conforntado com a realidade: ainda se imagina viver de um passado glorioso, repleto, porém, de "azáres" que justificam sua conturbada situação atual, e se espera futuro glorioso, seja metafórico, como o retorno triunfal de D. João VI, ou no plano sócio-político-econômico, através de um acontecimento que não se sabe explicar nem se busca, viria por milagre para compensar o azár. Um detalhe é que o livro (uma alegoria de Portugal tanto da contemporaneidade quanto do século XVIII) evidencia que não houve um passado de glória, como se imagina.
O texto, bem no estilo saramago, não possui pontuação: tem-se apenas ponto e vítgula, as falas se misturam entre si e com o narrador, exige uma certa concentração, mas é muito bom! Um dos melhores livros de saramago, sem dúvida. Este livro, por sinal, fez com Portugal "fizesse as pazes" com Saramago, que permaneceu omisso durante o período salazarista, ou melhor, permanceu omisso até ele mesmo ser alvo da ditadura de Salazár.
Ficam registradas as dicas
Mexendo na minha estante eis que me deparo com 3 livros bem interessantes, cada um a sua maneira, óbvio. Enquanto folheava um e outro, resolvi postaer aqui essa dica:
O primeiro, Sonoro, é um livro-manifesto homônimo do poeta Jorge Salomão, e é repleto de poesias que exaltam o som das palavras e o sentido vai sendo construído a medida que elas vão reverberando (ou na mente de quem lê em silêncio ou quem lê em voz alta). Possui um tom leve e descomprimissado, ideal para os fins de tarde ou madrugadas de insônia.
Já o segundo é um livro técnico, O Local da Cultura, do crítico indo-britânico e medalhão Homi Bhabha. Esse livro consumiu um ano de minha vida, tamanha a dificuldade de compreender o que era dito, a escrita de Bhabha é complicada, imagina uma tradução?! Apesar disso, considero o livro indispensável para qualquer um que deseja compreender a contemporaneidadee seus paradigmas regimentadores. E depois, nem tudo precisa ser simples para ser legal. Ainda preciso reler algumas partes, talvez eu poste algum material tratando, com calma, o livro.
O terceiro, e meu atual favorito, é Memorial do Convento, do poruguês José Saramago. A cada página eu me encanto mais com o texto, e hoje nessa onda de desencantamento do mundo, perceber-se encantado é algo que deve ser celebrado. O romance narra a história de Baltazar Sete-Sóis, Blimunda e do Padre Lourenço, e dois projetos: o primeiro é a contrução do Convento de Mafra, o pagamento de uma promessa feita por el-rei para ter um filho, e o segundo é a contrução da Passaróla, uma "máquina de voar" que o Pe. lourenço sonha em construir e conta com o apoio do casal Sete-Sóis e Sete-Luas.
O livro trás a luz a todos os exageros da coroa portuguesa e da forte influência da Igreja e de como a situação social nas cidades portuguesas era incompatível com o aparente quadro opulente da coroa: enquanto o povo passava fome, el-rei tinha mais de 20 funcionários para despí-lo. São elementos presentes no texto o sonho, a atmosfera mística, a questão do olhar e ver além das aparências.
Apesar do tom surrealista (e de realismo fantástico), é feita uma dura crítica, haja vista a constante ironia e os exageros por parte do autor feitos no intuito de explicar e desconstruir e desmistificar o mito da (hiper)identidade portuguesa, égide sob a qual ainda hoje portugal fecha sua identidade, reconhece a si própria como grande potência mundial injustiçada e vítima de inúmeros azáres históricos, e reforçou uma falsa identidade na qual o mito de si próipria é duplicado, impedindo com que seja conforntado com a realidade: ainda se imagina viver de um passado glorioso, repleto, porém, de "azáres" que justificam sua conturbada situação atual, e se espera futuro glorioso, seja metafórico, como o retorno triunfal de D. João VI, ou no plano sócio-político-econômico, através de um acontecimento que não se sabe explicar nem se busca, viria por milagre para compensar o azár. Um detalhe é que o livro (uma alegoria de Portugal tanto da contemporaneidade quanto do século XVIII) evidencia que não houve um passado de glória, como se imagina.
O texto, bem no estilo saramago, não possui pontuação: tem-se apenas ponto e vítgula, as falas se misturam entre si e com o narrador, exige uma certa concentração, mas é muito bom! Um dos melhores livros de saramago, sem dúvida. Este livro, por sinal, fez com Portugal "fizesse as pazes" com Saramago, que permaneceu omisso durante o período salazarista, ou melhor, permanceu omisso até ele mesmo ser alvo da ditadura de Salazár.
Ficam registradas as dicas
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