Cerquem os emos!

sábado, maio 27, 2006

Hoje, entre um livro e outro, entre um e-mail e outro, entre uma notícia e outra, eis que me deparo com isso na IstoÉ® Online: "Cerco aos emos" (a matéria encontra-se abaixo e o link dela também). A matéria trata de uma nova tensão entre as tribos em São Paulo (tá... eu quero é novidade!). A diferença é que este “patinho feio” é odiado por todos os cantos que vá, seja nas faculades, nas escolas, nas ruas, nas casas... Mas porque odiamos tanto os emos e as emas? É preconceito? É, ao contrário, conceito? Uma opinião formada? Ou simplesmente antipatia voluntária? Odiamos os emos ou temos essa licença por parte daqueles que estão preparados para “pensar” por nós?

Nos setores médios da sociedade, os setores de pensamento medíocre – pessoas que tiveram acesso ao ensino e ao pensamento crítico, porém superficial, e geralmente cheios de certezas e verdades absolutas – humilhar, odiar gratuitamente não é novidade, é uma prática, me atrevo a dizer, em determinados contextos, comum. Esta esfera do pensamento médio, é por excelência aquela que converte os preconceitos em verdades absolutas – “todo político é ladrão”, é um dos exemplos mais representativos da dimensão de como funciona o pensamento médio: ignora as complexidades e pressupõe uma realidade única, um modo unilateral de ver e estar no mundo – embora eu concorde com a idéia que não estamos isentos de ter preconceitos, e, além disso, identificamos com muita facilidade o preconceito dos outros e nunca os nossos... Reconhecer o Outro é muito simples e óbvio, o suposto reconhecimento dos iguais também, mas reconhecer-se a si, crê este que vos fala, é tarefa quase impossível, são tantas máscaras que usamos que eventualmente elas acabam se confundindo com a nossa carne. Antes de continuar, devo dizer que eu não gosto dos emos, precisar o motivo eu não sei, talvez um emaranhado de tudo que enunciei acima e outras milhares de razões ulteriores. Não quero que eles desapareçam, é verdade, eles de fato não me incomodam, mas dá para entender porquê tantos não os suportam, e não vejo muita relação entre os gostos musicais e o lay-out.

Em primeiro lugar porque este estilo emo é uma tentativa de retorno, ou melhor é um movimento kitsch do que foi o mal du siècle no século XVIII e pequenas, na verdade mínimas, doses do sentimento de deslocamento e marginalidade, do desencantamento do mundo, da perda, da constante frustração e da náusea sartriana (quando eu disse mínimo eu REALMENTE quis dizer mínimo, pífio!) que norteou os existencialistas do século XX. A diferença é que a maioria dos emos não é intelectualizada embora, em geral eles se apresentem como grande coisa (isso também incomoda).

O problema não é a intolerância ao estilo ou o modo de ser emo, aqui na Bahia, por inzêmprio, os setores médios “odeiam de raiva” (oposição para uma expressão mediana muito utilizada nowadays, “amam de paixão”, conhecem?) os pagodeiros, arrocheiros (pessoas que escutam e freqüentam espaços que tocam o ritmo “arrocha” e cujos maiores representantes são os grandes Silvano Sales – O Rei do Arrocha, Márcio Moreno – O Príncipe do Arrocha, Tayrone Cigano – O Cigano (?) do Arrocha, Brazilian Boyz – Os Meninos do Arrocha, Nara Costa – A Rainha do Arrocha e Jennyffer – A Sereia do Arrocha. Curioso é saber que os donos de estabelecimentos “arrochados” também são donos de alguns considerados muito “chiques” pela burguesia medíocre, falida e média da minha querida Província da Bahia), a diferença entre os modos de conviver com a diversidade é que aqui, mesmo que comprometa o capital social curtir arrocha, pagode axé, bem como qualquer música que não se enquadre no quadro semântico dos setores médios, ninguém sai matando pagodeiro. Portanto, o problema está não no ódio ao emo, mas na intolerância desmedida, numa prática urbana deplorável, a não-aceitação do outro enquanto tal, uma vez que a nossa cultura é homogeneizada e homogeneizante e a força se encerra nos números, na maioria, mesmo que o nosso regime político seja o democrático, que supostamente deve preservar o indivíduo privado, ou melhor, a intimidade dos indivíduos, tanto do Estado, uma vez que eles por ele não recebem investidura protetora alguma, e dos outros indivíduos. Trata-se de um regime que respeita e, para além disso, incentiva a diversidade. Porém, o quadro que acompanhamos preocupa. Os emos e emas são apensa uma nuance de um problema muito mais complexo.

A repórter demonstra uma certa preocupação com emos, um sentimento de pena e condescenência, crê este humilde missivista que ela, ou é uma “ema” ou quis proteger os “coitadinhos” das perseguições dos “malvados”, toda a construção do texto se dá por este viés, portanto ela acaba concordando em algum momento que eles são crianças desprotegidas...

O problema não é o preconceito, mas as pessoas (aliás, “assim como são os seres humanos são também as pessoas”, pensem nisso!) insistem muito em combater os sintomas, em se prender a (maldita) ponta do iceberg, se fantasiar de politicamente correto e seguir achando que “errados são os outros”, que são sempre as vítimas e que também são os outros os pobres coitados. O mundo é cão, negada! E ninguém é santo, ta todo mundo lutando pra sobreviver, a gente vai matando urubu a tapa, cachorro a grito, jacaré a peteleco... nadando contra a maré e rezando pra não se afogar. É isso. Até breve, meus caros leitores invisíveis.

O cerco aos emos

Eles pintam os olhos e curtem rock
sentimental, mas costumam ser
alvos de chacota e até agressão

Por Marina Caruso

Donos de um visual peculiar – roupas pretas, franja, olhos pintados e acessórios fluorescentes –, os emos são a mais nova tribo em expansão entre os jovens de 11 a 25 anos. Seus membros não têm o menor temor de expressar seus sentimentos e até chorar.

São fãs de um rock chamado emotional hardcore, ou emocore, um heavy metal mais romântico e melódico. Por isso, a expressão emo de emoção. O injustificável é que o estilo dessa turma vem produzindo chacota e gerando atitudes intolerantes e até agressivas de outras tribos. Em São Paulo, na Galeria do Rock, antigo reduto de punks e metaleiros, os lojistas protestam contra a presença de membros do grupo. “É vergonhoso um lugar como este se tornar reduto de pivetes emotivos”, resmunga um vendedor. Em outra vitrine, um cartaz anuncia: “Proibido estacionar emos e emas.”

Para os adeptos, a reação se deve ao desconhecimento. “Nos chamam de homossexuais porque pintamos os olhos. Não sou gay, embora não tenha nada contra”, explica Henrique Nascimento, 17 anos, que se classifica como um “metrossexual extra-assumido”. Por questão de segurança, ele e mais 30 emos vão em bando à galeria. Uma das poucas meninas do grupo, Priscila Souza Lima, 15 anos, acha que a perseguição se deve à intolerância. “Tem muita gente que faz pose e nem conhece o emocore. Por isso não nos levam a sério”, diz. O estilo musical da tribo nasceu em Washington (EUA), nos anos 80, com bandas como Embrace e Rites of Spring. Segundo o vocalista do Sepultura, Derrick Green, se diferenciava do hardcore pelas letras. “Eram músicas pesadas, que discorriam sobre sentimentos românticos”, explica.

Hoje, a febre é acompanhada por debate e tensão. “Os emos são bebês chorões. Quando crescerem, morrerão de vergonha de ter se vestido assim”, declarou recentemente na MTV o apresentador João Gordo. “Tenho medo de dizer que sou emo e apanhar de um skinhead”, confessa um deles. A preocupação se justifica. Em abril, um jovem de 22 anos foi esfaqueado por carecas próximo a outro reduto paulistano, o Bar Du Bocage. Há quem diga que o motivo da agressão foi vingança, já que a vítima havia pertencido a uma gangue de skinheads antes de se converter ao emocore. Um absurdo, mas o bastante para deixar os emos cautelosos.


fonte: IstoÉ® Online

Matéria completa aqui:
http://www.terra.com.br/istoe/1910/comportamento/1910_cerco_aos_emos.htm

segunda-feira, maio 22, 2006

São poços de petróleo
A luz negra dos seus olhos
Lágrimas negras cai, sai
Dói

Nelson Jacobina/ Jorge Mautner

sábado, maio 06, 2006

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.
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Apesar das ruínas e da morte
onde sempre acabou cada ilusão
a força dos meus sonhos é tão forte
que de tudo renasce a exaltação
e nunca que as minhas mãos ficam vazias
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Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sofia de Mello Breyner

Discografia pop: Paulinho da Viola - Dança da Solidão (1972)


Entre os anos de 1970 e 1975 a nossa música produziu discos como Transa, do Caetano, em 72; Fa-tal (A TodoVapor), da Gal, em 71; Acabou Chorare, dos Novos Baianos, em 72; Construção, do Chico, em 71; Rosa do Ventos, Drama - 3º Ato e A Cena Muda, todos da Bethânia, em 71, 73 e 74; Tim Maia e Racional, do Tim Maia, em 70 e em 74; Secos e Molhados, em 72... isso pra citar os mais conhecidos e mais fáceis de lembrar.
Em 1972 Paulinho da Viola brinda os nossos ouvidos com Dança da Solidão, nono disco de sua carreira. Curioso que com o lançamento de Universo ao Meu Redor, muitos apontam a Marisa Monte como inovadora nas sonoridades do samba, lógico que o disco é muito bom, é inovador, mas as experimentações das diferentes sonoridades e das possibilidades de diálogo do samba, além da composição mais, digamos, sofisticada, são feitas e muito bem feitas por Paulinho da Viola desde a década de 60(que por sinal assina uma música em Universo...), mescla o choro com o samba e com uma linguagem mais pop, além de produzir um samba com uma base instrumental variada.
O disco reúne composições de Wilson Batista - Meu Mundo É Hoje, Cartola - Acontece e Nelson Cavaquinho - Duas Horas da Manhã, além de músicas escritas pelo próprio Paulinho, incluindo o clássico que dá nome ao disco. Este missivistaé fã incondicional de Paulinho da viola.

Abaixo, coloco o link (rapidshare) para download do album completo

Dança da Solidão (1972)

Texto da Ana Carla Reis

Reencontrando o nosso norte
13/04/2006 Ana Carla Fonseca Reis

“Como é São Paulo?”, perguntou-me o recepcionista do hotel na China, enquanto eu fechava a conta. Questãozinha difícil para responder em dez segundos, já pensando na fila atrás de mim. Voltei para casa buscando a identidade da cidade, esse quebra-cabeças formado por tantas imagens, dos mais diversos povos de fora e daqui, raças distintas misturadas em um caldeirão de esperanças de todos os tamanhos e ordens. Como sintetizar essa riqueza de influências, essa diversidade efervescente e ritmada 24 horas ao dia?

“Se você quiser conhecer uma cidade, deve andar olhando cinco metros acima do chão.” Lembro-me das palavras de um amigo urbanista, enquanto paro em plena Praça da Sé, marco zero de São Paulo. Fico observando os transeuntes. São avalanches de paulistanos, por nascimento ou circunstância, que chegam e saem por todos os lados, em passos lépidos, olhando para baixo ou para frente, sem se permitir o tempo de ver nada. Olho para cima. Vejo uma profusão de cariátides, esculturas, rebocos antigos e me pego sorrindo. Conheço poucos lugares que representam tão acintosamente a convivência entre valores estéticos e valores econômicos. Se São Paulo fosse uma pessoa, acho que seria uma executiva poliglota e polivante, com um coração onde cabe o mundo e, à noite, não resiste a comer uma pizza, pegar um cineminha ou cair na balada. E é ao soltar o cabelo e tirar os óculos que ela escancara sua beleza. Os prédios comerciais transmutam-se em pérolas arquitetônicas de todas as décadas, as ruas e avenidas transformam-se de vias de circulação em um palco de luzes, restaurantes, barzinhos e personagens da fauna urbana. Mas por que será que tendemos a enxergar apenas a executiva ocupada entre a teleconferência e a caixa de mensagens?

Richard Florida, um dos grandes estudiosos da economia criativa, defende que a vantagem competitiva de uma cidade se apóia sobre três Ts: tecnologia, talento e tolerância. Eu adicionaria um I: identidade. Não se pode respeitar e defender o que não se conhece. São Paulo esbanja os três Ts mas, ao contrário de outros pólos criativos mundiais, como Nova York e Londres, ainda é vista por nós brasileiros essencialmente como um local de trabalho e consumo. Fico assustada ao pensar que esse desconhecimento da cidade, esse microcosmo do Brasil e do mundo, segue um paralelismo muito próximo com o que acompanhamos na pasteurização dos conteúdos de televisão e cinema, para me ater ao mais óbvio. Conhecemos de cor as crises de depressão das nova-iorquinas carentes e defendemos posições aguerridas quanto à invasão do Iraque pelas tropas dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, negligenciamos solenemente o valor da nossa diversidade cultural e ignoramos com descaso assustador os insultos morais, mentais e econômicos que as danças da pizza simbolizam magistralmente. Do mesmo modo, reconhecemos fotografias do Big Ben e ficamos enlevados pelas cenas do Central Park, mas não divulgamos que São Paulo abriga a segunda maior população indígena do país (atrás apenas de Manaus) e a maior floresta urbana do mundo (a Cantareira), além de desabrochar em um festival de dimensões estonteantes a cada florada dos ipês, quaresmeiras, paineiras e outras maravilhas da flora urbana.

Diante desse contexto, é um grande alento encontrar pessoas como Vera Lúcia Dias, que reconhecem na identidade cultural nosso bem mais precioso. Trazendo no currículo experiências na Secretaria da Cultura e no SESC e formada em turismo, ela é uma das precursoras do turismo cultural paulistano. Desde 1998 organiza passeios pelas ruas da capital, revelando um pedacinho da cidade aqui, uma história secular ali. Quando começou a divulgar os roteiros, percebeu que os habitantes nem sempre sabiam onde os locais propostos ficavam. Passou então a tirar fotos, para poder fazê-los ver o que passava desapercebido, restituindo ao olhar parte de suas referências. O Anhangabaú recupera a aura mágica de um vale encantado e cada bairro explode em suas cores próprias, em sua identidade inestimável para formar o caleidoscópio da cidade. Apesar das dificuldades, resgatar a identidade da cidade e desfraldá-la a todos e a nós mesmos é um manancial de satisfações. A maior delas? “Quando a pessoa, mesmo o morador de São Paulo, diz que está se sentindo um turista. Aí eu sei que ela nunca mais olhará a cidade do mesmo jeito.”

É por meio de iniciativas como essa, repetidas isoladamente em tantas cidades do Brasil, que nossa identidade cultural nos faz reencontrar nosso norte, apontando para onde quer que queiramos, sem nunca esquecermos de quem somos.

www.saopaulocafeturismo.com.br

Autora de “Marketing Cultural e Financiamento à Cultura”, “Gestão Empresarial – de Taylor a Nossos Dias”, Ana Carla é administradora pública pela FGV, economista pela USP, mestre em administração pela USP com MBA pela Fundação Dom Cabral. É vice-presidente do Instituto Pensarte

fonte: Cultura e Mercado
(http://www.culturaemercado.com.br/setor.php?setor=3&trid=5)

Comentários deste missivista:

Apesar desse texto ser, ressalvando o termo, "bairrista" - uma vez que o entorno, o universo, de Reis é a cidade São Paulo-, concordo inteiramente com a autora no que tange as questões da identidade na condição de um pilar fundamental na instauração bem-sucedidada da chamada economia criativa e, sobretudo, numa economia da cultura forte e para além disso, haja vista que a identidade transcende aspectos mercadológicos, strictu sensu, e está diretamente relacionada às questões de intersubjetividade, reconhecimento de si e do outro, de configurações de realidade etc.
Acredito que apaixonar-se pela cidade é um passo importantíssimo, afinal, nada malhor do que mirar-se no espelho e gostar do que vê.
Ainda me pego sorrindo enquanto faço meu percuirso casa-faculdade//faculdade-casa, seja no início da manhã, ainda com sono, ou no fim do dia (ou da noite), cansado, mas hipnotizado pela beleza, complexidade que é também tão simples, pelo sotaque, por um timbre, e por uma baianidade que é, ao contrário do que se vê e se imagina, é múltipla.
Ainda caminho pela minha Sagrada Cidade do Salvador em busca da minha primeira impressão, observando cada detalhe com olhar de turista, cada canto cheio de histórias e de memórias, não só minhas mas de todos que ali passaram, e que ali ficam impregnadas.

Antes que eu me esqueça: Ana Carla, você ganhou um fã no II ENECULT!!

Livros interessantes

Depois do stress do II Encontro de Estudos Multidiscplinares em Cultura - ENECULT, do cansaço, veio uma insônia dessas terríveis! Preferi utilizá-la a meu favor e aliviar as tensões escrevendo.
Mexendo na minha estante eis que me deparo com 3 livros bem interessantes, cada um a sua maneira, óbvio. Enquanto folheava um e outro, resolvi postaer aqui essa dica:

O primeiro, Sonoro, é um livro-manifesto homônimo do poeta Jorge Salomão, e é repleto de poesias que exaltam o som das palavras e o sentido vai sendo construído a medida que elas vão reverberando (ou na mente de quem lê em silêncio ou quem lê em voz alta). Possui um tom leve e descomprimissado, ideal para os fins de tarde ou madrugadas de insônia.


Já o segundo é um livro técnico, O Local da Cultura, do crítico indo-britânico e medalhão Homi Bhabha. Esse livro consumiu um ano de minha vida, tamanha a dificuldade de compreender o que era dito, a escrita de Bhabha é complicada, imagina uma tradução?! Apesar disso, considero o livro indispensável para qualquer um que deseja compreender a contemporaneidadee seus paradigmas regimentadores. E depois, nem tudo precisa ser simples para ser legal. Ainda preciso reler algumas partes, talvez eu poste algum material tratando, com calma, o livro.


O terceiro, e meu atual favorito, é Memorial do Convento, do poruguês José Saramago. A cada página eu me encanto mais com o texto, e hoje nessa onda de desencantamento do mundo, perceber-se encantado é algo que deve ser celebrado. O romance narra a história de Baltazar Sete-Sóis, Blimunda e do Padre Lourenço, e dois projetos: o primeiro é a contrução do Convento de Mafra, o pagamento de uma promessa feita por el-rei para ter um filho, e o segundo é a contrução da Passaróla, uma "máquina de voar" que o Pe. lourenço sonha em construir e conta com o apoio do casal Sete-Sóis e Sete-Luas.
O livro trás a luz a todos os exageros da coroa portuguesa e da forte influência da Igreja e de como a situação social nas cidades portuguesas era incompatível com o aparente quadro opulente da coroa: enquanto o povo passava fome, el-rei tinha mais de 20 funcionários para despí-lo. São elementos presentes no texto o sonho, a atmosfera mística, a questão do olhar e ver além das aparências.
Apesar do tom surrealista (e de realismo fantástico), é feita uma dura crítica, haja vista a constante ironia e os exageros por parte do autor feitos no intuito de explicar e desconstruir e desmistificar o mito da (hiper)identidade portuguesa, égide sob a qual ainda hoje portugal fecha sua identidade, reconhece a si própria como grande potência mundial injustiçada e vítima de inúmeros azáres históricos, e reforçou uma falsa identidade na qual o mito de si próipria é duplicado, impedindo com que seja conforntado com a realidade: ainda se imagina viver de um passado glorioso, repleto, porém, de "azáres" que justificam sua conturbada situação atual, e se espera futuro glorioso, seja metafórico, como o retorno triunfal de D. João VI, ou no plano sócio-político-econômico, através de um acontecimento que não se sabe explicar nem se busca, viria por milagre para compensar o azár. Um detalhe é que o livro (uma alegoria de Portugal tanto da contemporaneidade quanto do século XVIII) evidencia que não houve um passado de glória, como se imagina.
O texto, bem no estilo saramago, não possui pontuação: tem-se apenas ponto e vítgula, as falas se misturam entre si e com o narrador, exige uma certa concentração, mas é muito bom! Um dos melhores livros de saramago, sem dúvida. Este livro, por sinal, fez com Portugal "fizesse as pazes" com Saramago, que permaneceu omisso durante o período salazarista, ou melhor, permanceu omisso até ele mesmo ser alvo da ditadura de Salazár.

Ficam registradas as dicas

procurando a lua
encontro o sol
mas já de partida


Alice Ruiz

Uma boa muqueca!


Muqueca de Peixe com camarão
(estou respeitando a grafia e a fonética de Itaparica!)



ingredientes
1 cebola grande em rodelas
sal a gosto
Salsa picada a gosto
Coentro a gosto
20 tomates-cerejas (ou "tomate-mirim", como se conhece na Ilha)
2 colheres de sopa de pirão de tomate
4 pimentas do tipo Malagueta (sem pimenta não é muqueca, é ensopado, lembre disso!)
2 dentes de alho
2 cocos secos
Azeite de dendê a gosto
Cebolinha verde a gosto
500g (no mínimo) de Vermelho ou Carapicu
500g (no mínimo) de camarão pequeno
150g de camarão seco
suco de 2 limões
preparo
Tempere o peixe com sal e suco de limão, tomate cereja cortado, deixe marinar por 30 minutos
Acrescente o leite de coco, o camarão seco, as pimentas e o pirão de tomate à marinada e reserve por 10 minutos.
Numa panela (de preferência de barro, das que podem ir direto a mesa, mas na Ilha, a panela não importa), misture o azeite de dendê.
Aqueça e doure o alho ligeiramente.

Acrescente o camarão o peixe e os temperos e deixe cozinhar por 10 minutos (ou até que o perfume da muqueca fique forte, "que cheire", como diz o povo da Ilha).
Acrescente o camarão e cozinhe em fogo baixo por 3 minutos.
Retire do fogo e sirva, de preferência acompanhado com feijão de leite e bastante pimenta.

Sugiro uma boa cocada, doce de abóbora ou doce de banana para a sobremesa!
Depois de comer, é melhor ainda deitar numa rede (ou no chão da varanda) e curtir a brisa... se for na Ilha de Itaparica, então...

Procuro agulha pra vitrola Philips

Não é novidade pra quem já me conhece (e agora até pra quem não me conhece) a minha paixão por discos de vinil, minhas bolachas... achei uma antiga vitrola nas coisas do meu finado avô, mandei concertar e muito animado saí louco restaurando, limpando, catando discos antigos que ninguém mais queria, passei a freqüentar os sebos da cidade, parar na Praça da Sé e na Avenida 7, se tenho um troco sempre compro um. Tô com uma coleção bem interessante, modesta, é verdade, mas tem raridades com um disco de musica cubana de 1959, musicas do carnaval da década de 40, Magical Mistery Tour... agora só tem um problema: preciso da agulha! O som tá bala, foi uma colagem, peguei caixas de um, aparelho de outro, mas o som tá que é uma beleza, uma coisa linda de Deus, tá botando pa lá... mas sem agulha meus discos são só enfeite... alguma boa alma conhece onde posso encontrar? Já fiz uma peregrinação da avenida 7 até o pelô e nada...

Por inzêmprio: A Grande Rede, mas peixe que é bom, nada...

A Rede é grande e sua penetração ainda é, em minha humilde e contestável opinião, imensurável, mesmo com todos os mecanismos para controlar a navegação da maioria dos usuários, desde o mais comum como spywares, ad-wares, trojans, cookies e todos os dados de navegação que ficam retidos em provedores, o universo de pelo menos 690 milhões de usuários estimados, de acordo com uma estimativa da comScore Networks . A empresa afirma sucesso na empreitada. O relatório nada difere do demais: tempo de navegação em cada país, sites de preferência, mecanismos de busca. Aliás, os relatórios estatísticos sobre a internet estão cada vez mais tautológicos. Como sempre esse relatório "surpreende ao concluir" que os platinados e, segundo o Caetano (quando Caetano ainda era Caetano), "grandes responsáveis pela alegria desse mundo" , norte-americanos (preciso começar a ser solidário com meus colegas latinos e usar o termo estadunidenses), não figuram no TOP 10 em quantidade de usuários nem no que tange ao tempo de conexão... os sites continuam os mesmos: MSN, YAHOO e GOOGLE...
O famigerado google consegue, ou diz conseguir, mapear 4 bilhões de websites, contudo fugir da mesmice na internet está cada vez mais difícil mesmo com quase 700 milhões de usuários em todo o mundo, nem sei quantos tarabytes (alguns milhões) em arquivos, sites dos mais variados, botões para se clicar, feeds, seeds, blogs, lembrando que surge um blog a cada segundo e talvez mais de um, portais, listas de discussão, surveys, spams, hoaxes, softwares para comunidação, compartilhadores de arquivo, e-mails, fóruns, orkut etc.
São inúmeras - aliás quando se fala em internet termos que indicam a indefinição são obrigatórios ou simplesmente cômodos - as possibilidades técnicas que imprimem um caráter de cotidianidade ao computador i. e. lixeira, área de trabalho, o teclado, o design etc. Haja vista que os primeiros compuatdores não possuíam uma sombra dos de hoje! Eram ferramentas militares e científicas, gigantescas máquinas de calcular e ao contrário do que imagina, a micro-informática não foi configurada pelo interesse da grande informática, mas seus agentes foram estudantes com idade entre 18 e 30 anos que construíram em garagens os proto-computadores pessoais, e não a IBM. Concordo que isso se repita até hoje: em geral a grande indústria não percebe com precisão as latências e a criatividade das pessoas, basta observar que os serviços mais procurados na Rede (chats e compartilhadores são os dois exemplos mais representativos que consegui me lembrar) surgiram dos usuários, da base, e não dos escritórios da Microsoft, Apple ou Intel.
A logotécnica, a grosso modo a facilidade para lidar com a linguagem do computador por meio da associação entre tecnologia, a esfera do discruso, cognição e da comunicação, realiza com sucesso o ofício de (dis)simular a vida, construiu no imaginário coletivo a idéia de que as máquinas, em especial - ou sobretudo - o computador são extensões do corpo, do entorno e das capacidades humanas. Aliado a esse fato tem-se o contexto dos movimentos da globalização (sócio-econômico-cultural), agora o mundo conectado por meio da Rede e compõe uma grande tribo de iguais na diferença. A diversidade, a anarquia, o caos: esse era o mote da internet nos primeiros anos, quando do primeiro boom aqui no Brasil (1994-1997), a possibilidade de anonimato, de liberdade e de encontros outrora impossíveis. O quadro favorável à socialização e a sociabilidade fizeram com que a rede crescesse em progressão geométrica e chegasse ao que é hoje até o dia em que todos possuam seu próprio IP... quem diria que identidade poderia, ao menos em hipóteses, ser tão simplificada?
Se em 1994 achava-se que a rede era infinita, hoje tem-se a certeza de que o é um fluxo informacional impossível de ser acompanhado.
De qualquer forma, ainda assim vejo com olhos de pouca surpresa quando alguém comenta comigoque liga o computador, disca (se não já o estiver), abre navegador, msn, gmail, orkut, emule, soulseek, google, windows media player, e 20 minutos depois pergunta a si (ou à máquina) o que é que eu faço agora? Afinal, na televisão a recepção é passiva em relação ao computador, uma vez que a informação é enviada continuamente, e na internet se pressupõe uma busca do usuário, e o que percebo é que em geral a preguiça e a pressa tornaram a experiência diante da Grande Rede, uma situação frustrante. Se não se usa 10% do cérebro, menos ainda se usa a internet.
A internet é o verdadeiro Labirinto de Borges, é a verdadeira Biblioteca de Babel (em última instância é a própria Babel e sua Torre por Deus um dia amaldiçoada), estão perdidas em algum canto do cyberspace as vindicações de todo ser humano, há línguas que não se compreende e outras que não existem mais e que ainda estão por existir. Alguns devotam suas vidas em busca das suas, outros sequer acreditam em sua real existência. Muitos morrem sem concluir essa profana missão, já que não é possível a um homem comum, desprovido de qualquer divindade, conhecer suas ou de outros vindicações. Está ali todo o conhecimento, mas ele está escondido como um ladrão na noite...

Lucas

Ainda é possível encontrar gente com bom senso!

quinta-feira, maio 04, 2006

A Coalizão Canadense de Criadores de Música (CMCC) foi fundada por artistas que discordam do posicionamento atual dos defensores dos direitos autorais a respeito da forma como estão sendo rep

http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI989182-EI4802,00.html


A Coalizão Canadense de Criadores de Música (CMCC) foi fundada por artistas que discordam do posicionamento atual dos defensores dos direitos autorais a respeito da forma como estão sendo representados e com que seu público está sendo tratado. Os músicos consideram que a abordagem atual do problema representa o ponto de vista dos lobistas da indústria mas não o dos artistas.

O grupo, formado por famosos artistas e grupos canadenses, tais como Avril Lavigne, Sarah McLachlan e Barenaked Ladies, afirma em seu manifesto entre outras coisas que "fãs que compartilham música não são ladrões ou piratas" e que partilhar música é algo que acontece há décadas, informa o site P2Pnet.

Os artistas defendem que processar seus fãs não é uma boa idéia, que travas digitais são perigosas e contraproducentes e que as políticas culturais deveriam ser sobre apoiar a cultura e não um interesse financeiro. O anúncio segue a notícia de que o selo musical de Avril Lavigne está ajudando a pagar pela representação legal de um fã que foi processado pela RIAA.

É sabido que a indústria musical quer apenas proteger o seu negócio de vender música. Estas empresas não fazem música e sua discussão não é sobre proteger direitos autorais dos autores, e sim preservar os lucros de seus empreendimentos. A indústria de discos tem a reputação histórica de dificultar aos artistas ganhar dinheiro de forma justa com sua música. É um passo importante neste debate o fato de cada vez mais músicos declararem que os pontos de vista defendidos pela indústria não representam os deles.

Leia detalhes do manifesto "A New Voice" no site da CMCC, em musiccreators.ca

fonte: www.terra.com.br/tecnologia