Por inzêmprio...

segunda-feira, março 20, 2006

Dá pra impedir a cópia de cds???

Inauguro aqui a coluna Por inzêmprio. Também fui contaminado - ou melhor, contraminado, como costumo ouvir em alguns pontos de ônibus, filas de banco ou demais não-lugares aqui de Salvador - pelo vírus do colunismo. É uma epidemia que está em todos os cantos do ciberespaço. Mas, como já disse antes: se tudo agora é push-button e click here, se todos estão falando, escrevendo, fotografando, filmando, aliás, não sei de onde vem tanta ânsia em se dizer alguma coisa, mas não importa muito, porque o foco aqui não é esse.
E depois, já que todos estão se pronunciando, por que este humilde missivista não pode fazer parte dessa celeuma?


Hoje, navegano na rede enquanto eu fazia alguns trabalhos, baixava e escutava músicas encontrei esta nota no Terra Música perdida no meido dos feeds:

Dispositivo impede que CDs de Marisa Monte migrem para iPod

No breve intervalo de tempo em que eu li a matéria, não pude deixar de pensar: será que isso impede, de fato, a pirataria? Lembro que pouco depois que este dispositivo foi lançado no mercado, os hackers e ciberpunks quase imediatamente divulgaram como eliminá-lo (basta uma caneta esferográfica para conseguir a proeza de inutilizar esse sistema anti-cópia).
Resolvi fazer um teste no Emule e o que encontro? Nada menos do que 687 ocorrências (dos dois albuns), ou seja, é algo falho, afinal este mágico dispositivo deveria coibir a pirataria; o que obviamente não acontece.

Está no emule, está nas praias, nas praças... Então se o sistema é ineficaz, por quê se insite em divulgar isso como um grande feito? Retorno imagético? Não sei.... Principalmente porque no caso da Marisa Monte, os albuns poderiam estar disponíveis em todos esses lugares, porém há um público fiel da cantora que consome os discos e comparece aos espetáculos não importando, inclusive, o preço. Creio ainda que não deve ter sido iniciativa da cantora, é uma política das gravadoras. O que não sei é se estamos diante de uma iniciativa inocente ou não.

Tudo o que se verifica hoje, principalmente a absurda atribuição dos problemas da indústria fonográfica, e do entretenimento de modo geral, aos usuários de programas peer to peer (softwares utilizados para compartilhar arquivos), na maioria estudantes, é o resultado de uma indústria que não estava atenta às mudanças ocorridas ao longo dos últimos 20 anos. Aliado a isso, houve um inchaço na indústria neste mesmo período e agora está um pouco tarde para resolver, ou ao menos da forma como se propõe. Medidas como essa atuam sobre o sintomas e não sobre o problema.

É importante destacar que aqueles que não se submenteram, a priori, as regras de mercado, sobreviveram e sobreviverão, mesmo com indústria imersa em uma crise que ainda não se mensurou o tamanho.

Será que a Bethânia se incomoda com a pirataria? Pode se incomodar no que tange a propriedade intelectual, quanto ao ofício de/do ser artista, ao direito autoral, mas quanto as vendas, duvido muito! Elas continuam as mesmas, aliás, até aumentaram, porque quem compra Bethânia quer o produto original, não compra na praia, nem se contenta com o arquivo mp3.

Há, contudo, iniciativas menos alardeadas, e no entanto mais eficazes. Nesse sentido, basta lembrar do inzêmprio criativo de Lobão: um dispositivo que registra quando e onde a música é executada (óbvio, se o disco for executado a partir de em um computador conectado à internet). Inclusive, e, principalmente em quais emissoras de rádio. Não foi à toa que algumas gravadoras européias se interessaram muito na idéia, e é tecnologia underground daqui do Brasil!

Observando com mais cuidado o dispositivo do Lobão, percebe-se que ele está direcionado a proteção da propriedade intelectual, está a serviço do artista, enquanto a outra tenta impedir que cópias sejam feitas, pressupondo que, ao impedir que um usuário doméstico extraia o conetúdo de um disco, além de atacar "a indústria da pirataria", as vendas serão impulsionadas, o que obviamente não acontece.

Outro ponto fundamental é que a venda de discos não gera receita para os músicos e cantores, eles ganham com as apresentações, com os shows e eventos. Curioso que aquels que lucram em cima da venda direta de discos são justamente aqueles que não são afetados pela crise fonográfica - Bethânia, Roberto Carlos... embora, como eu disse, o que importa é a realização de shows, e eventos em geral, que geralmente recebem patrocínios e/ou estão amparados em leis de renúncia fiscal.

Venda de disco e ECAD não matam a fome de ninguém, são só formas de cobrar mais imposto seu e meu... Por inzêmprio, na década de 90, Chico Buarque entrou em crise pessoal porque o que o ECAD repassava pra ele era uma quantia tão ínfima que ele achou que sua carreira tinha chegado ao fim. Para quem não sabe o Ecad é aquele órgão que cobra para você executar músicas em público, seja um show, uma solenidade, um recital, e mais importante: nas rádios! Eles supostamente deveriam repassar para o artista regularmente, o que raramente ocorre porque ótgão trabalha por amostragem, variam de estação e de quando eles fiscalizam... ou seja, pra viver de sua arte é dificil, e o Estado cansado contribui muito pra isso... aliás, o modelo da indústria fonográfica também saturou, e ao invés de buscar soluções, eles atribuem uma crise que inclusive foi reforçada por uma crise econômica mundial, a troca de arquivos... me desculpem aqueles que acreditam nisso...

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