Reconduções e entrelaces teórico-filosóficos nos limites e fronteiras dos rumos possíveis do rompimento do cânone e do olhar transdiciplinar plural

quinta-feira, maio 22, 2008

Se este missivista (de 23 outonos recentemente completados) tem uma saudável obseção, ela atende pelo nome de "elocubração acadêmica" - um carinhoso apelido para aquelas frases de efeito, aforismos, máximas, mínimas... enfim, aquelas frases que a gente acha absolutamente bonitas e que se colocam um (ou talvez inúmeros) nível acima de nossa... ahm... ahm... hummm... inteligência.
Ainda quando calouro na famigerada Universidade Federal da Bahia na imaculada Faculdade de Comunicação, eis que, na empolgação caloura, freqüentei o máximo de palestras, fóruns, simpósios, encontros e mesas redondas que se possa imaginar... no início eu entendia pouca coisa, mas julgava não entender porque eu ainda estava verde, não conhecia os termos nem o jeito de me comportar, imaginava dominar algumas coisas, mas ficava na minha... claro, fui um calouro bastante convencional (desses que entram na universidade com eras glaciais de experiência acadêmica e cheios de questionamento e "posturas" quanto aquelas famosas "questões e problemáticas" e os famosos "muros" da academia - sim, hoje estou exorcisando o calouro que existe em mim!).
O mais legal foi que, ainda calouro, comecei a desconfiar das farsas e fraudes (não me refiro aqui aos plágios, por favor!!!) daqueles belíssimos discursos proferidos com tanto afinco e altivez, além das perguntas, tréplicas, debates eufóricos, apaixonados...
A primeira coisa que eu entendi foi que eu gosto do ambiente da universidade... afinal, uma maçã não cai muito longe da macieira: filho de pais professores e pesquisadores (de áreas do conhecimento não muito afins), nascido e criado na segurança dos "portões, muros e questões problemáticas da academia", entrei em uma escola que me apaixonou... então curtir essas coisas estava no pacote! Logo dei um jeito (ou pelo menos o meu jeito) de desenvolver pesquisas, apresentar comunicações, escrever artigos, até criei um blog e... ops, digressões, digressões...
Bom, voltando: entrei na universidade e confirmei que gosto dessa coisa acadêmica (por menos ortodoxo que eu seja e por mais próprio que seja o meu jeito de gostar)... esses eventos passaram a ser jeitos de aprender algumas coisas, alguns me ensinaram apenas palavras bonitas e como aliterações e paráfrases podem ajudar ou até mesmo transformar radicalmente um artigo, uma fala, uma conferência.
Agora, se uma coisa está ou não sendo dita, aí são outros quinhentos!!!
A primeira vez que eu presenciei uma elocubração foi quando após 25 minutos de uma conferência lida por um renomado pesquisador da UFBA ele disse que "tudo não passava de um dilema ético-político no âmago da intelectualidade. Muito obrigado". Desde então eu desconfio muito do uso de determinados lexemas ao invés de outros e da fé cênica empregada quando do seu uso. Como falei antes, no início eu me achava burrinho por não entender nem 10% das coisas que eu ouvia nas palestras e conferências (bom, burrinho eu ainda sou!!!) e pior: me achava o único burro, porque as pessoas anotavam muitas coisas em seus bloquinhos e cadernos, enquanto nos meus eu colocava apenas um ou outro livro, um e-mail do pesquisador, uma passgame bacana, uma elocubração de destaque (lógico!). Mas, de fato, eu me dedicava a rabiscar com cuidado e apreço todas as folhas timbradas... fora que as pessoas traziam no rosto aquela expressão de "tô entendo tudo" e nos coffee breaks (acho "coffee break", por sinal, um nome cafona para intervalo.... uma breguice pura!!! As pessoas esfomeadas cerceando o comportamento alheio... humpf! Antes de comer, faça pose de educado, pegue um pãozinho délicia - tradição da Bahia é chamar pãozinho de "pãozinho dÉÉlicia" - e depois, quando nínguem mais estiver, pegue vários, guarde na bolsa/mochila/sacola do congresso e coma discretamente durante as palestras... "bobagem, meu filho, bobagem...") converse bastante, contraponha os argumentos apresentados, questione a fala daquele especialista franco-alemão que estudou numa universidade inglesa e tem 45 livros publicados, diga que achou a fala dele superficial ou que ele simplesmente não "coordena bem as idéias" ou que ele é "epistemologicamente incorreto"... sim, todos os exemplos são coisas que eu já ouvi por aí... seja lá o que cada uma dessas coisas signifique... como eu disse, não entendo muito bem dessas coisas.. eu sou um amante da academia, mas não sou intelectual e inteligente... é quase como o mundo dos cansados: vou mas não entendo aquele dialeto exótico que eles falam.
Mas nem sempre escapamos das elocubrações... elas podem emergir até mesmo em uma inocente aula... e se o tema da aula ou da disciplina for remotamente ligado a filosofia, sociologia ou alguma teoria pós-contemporânea, cuidado... você pode ouvir coisas como "...o mundo poderia e deveria ser uma única estrutura, nós poderíamos ser uma única carne, víva e pulsante..." ou perguntas como "e como resolver tamanho dilema ético-filosófico quando a possível forma de elucidar essa questão é um possível oxímoro, professor?"... é por isso que eu cramo!

"sim, eu poderia abrir as portas que dão pra dentro [...] mas eu prefiro abrir as janelas para que entrem todos os insetos"

E os títulos??? Ah, esses merecem um post a parte!!! Peguem os programas de congressos, encontros, e eventos semelhantes... "simpósio", tem nome de evento naturalmente intelectual do que "simpósio de ciências humanas e ciências sociais aplicadas: o olhar multidisciplinar para a discussão das reintrâncias metodológicas na análise antropológica da obra literária contemporânea em um contexto global"... talvez isso seja despeito, sou péssimo de títulos... os meus artigos sempre tem títulos diretos e objetivos (pelo menos os mais antigos... heheheh... os mais recentes tem esses enfeites)... i.e: quando fui falar dos públicos de um teatro daqui de Salvador, eu escrevi "Públicos do Teatro Sesi Rio Vermelho", mas na verdade eu deveria colocar algo mais chamativo... colocar uma "conseqüência", uma "abordagem", algo que desse destaque. Bom, com relação aos títulos, devo dar um desconto, porque quem diz que um livro não se julga pela capa, além de um grande mentiroso, é um bobo hipócrita! Os títulos dos "simpósios" e dos artigos e comunicações devem chamar atenção, imaginem que alguns congressos chegam a ter 10 ou 20 apresentações simultânes, todas interessantíssimas, relevantes, por pesquisadores com lattes de respeito, especialistas naquilo que está na ponta, todos estão na sua bibliografia da iniciação científica, monografia, dissertação ou tese... o que fazer? O diferencial é sempre o título, afinal, as aparências nem sempre enganam... e se é bom, que pareça ser bom, ora essa! Tá, os títulos se salvam, mas e as passagens cretinas das falas? Aquelas que tem um objetivo meramente cosmético? Ou pior seria esse código de comportamento ("não tô entendendo nada, mas sou excelente ator, minha cara diz que tô sacando tudo!")... Bom, nem tanto nem tão pouco, meus jovens... Não confundir a cara dos intelectuais silenciosos com a cara de interessado! Elas são sensivelmente distintas. Humildade é bom, mas na academia, uma das maiores fogueiras da vaidade da História da humanidade, este termo não deveria existir... hehehe É um menu de opções variadas, e na dúvida, o jeito é escolher o mais bonitinho, mesmo. Claro que isso acabou invertendo as coisas: vira um campeonato e vence aquele que for mais complicado, ainda que tudo aquilo que foi dito não signifique absolutamente nada! Tem frases de efeito e fé cênica? Então passa... Alguém precisa gritar que o rei está nu!!!!



MURIEL, O REI ESTÁ NU!!... E ESTÁ REALIZANDO UMA PALESTRA!!!
ARRRRRGHHHH!!!!!!!!!

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