Minha (ainda) parca experiência profissional foi muito divertida... apesar da pouca idade eu já trabalhei em ONG, empresa pequena, empresa grande, trabalhei sozinho, trabalhei com gente de tudo que é tipo: artista, capitalista, socialista, niilista, xiita, evangélico e candomblezeiro, gente honesta, picaretas, embromadores e loucos... O mais interessante é que em todos os casos o que eu mais vi foram pessoas com muita fé cênica, ou melhor, só fé cênica. Claro que eu também tive a (boa) sorte e encontrar pessoas que além a fé cênica tinham, efetivamente, alguma coisa a dizer, e o mais importante, alguma (ou muita) coisa relevante.
Em quase 4 anos de.... well er... hmmm... bom, 4 anos de carreira, mesmo... uma das coisas que eu achei mais engraçada foi que em muitos lugares por onde eu passei eu sempre ouvi conversas (e até participei de palestras e treinamentos) sobre a noção de inteligências múltiplas, inteligência emocional, profissional multicapacitado, multimídia, multiuso e por último, o fragmentado e o multifacetado. Tudo isso por quê estamos imersos em um suposto cenário global de aproximação e fragmentação dos sujeitos.
É tudo pós-moderno, pós-punk, pós-grunge, pós-indie e pós-cansei de ser sexy!
Posso estar enganado, é bem provável que eu esteja. Mas queiram me prestar a gentileza de seguir comigo este raciocínio. Vocês lembram quando as mães de vocês diziam para fazer uma coisa de cada vez? Ou quando o seu professor de física disse que dois corpos não ocupam o mesmo tempo e espaço em toooooodo o universo? O seu professor de física podia até não gostar muito de você, mas sua mãe devia gostar.. e quem ama não mente (blé?).
A desculpa de múltiplos apredndizados e múltiplas aptidões, derrubada de paredes em escritórios para "fazer com que as pessoas convivam, se ouçam e se vejam" (UGH!!!Meu estômago!!! Meus rins...) não passa de um modismo de uma corrente da administração (ou algum similar seu) que bebe na maravilhosa auto-ajuda, e pior, que justifica por exemplo a redução na contratação ou simplesmente no corte de funcionários. Fora que a onda do "faça-você-mesmo" é um saco... e ainda sustenta muito palestrante mundo afora.
É preciso ser multifacetado porque o mundo é fragmentado: as idéias, os fatos, a vida... e como não podemos dar conta de uma totalidade, ela é abordada em múltiplos ângulos. Bonito, não? NÃO! Tudo balela!
O fato é que o acúmulo de funções, além de ser cansativo, faz cair a produtividade... Mas a culpa não é de uma jornada de trabalho de 10 horas e com 4 funções, mas da fragmentação da comunicação, da cultura, do pensamento, da televisão, é da globo!
Eu sou careta! Fora com as multi/trans/inter/pluri/alfa&ômega... e vamos voltar a ser convencionais e meio fechados... porque é assim que nós somos... não me refiro às idéias, às posturas políticas e de como lidamos com valores partilhados socialmente, sobretudo quanto aos conceitos e pré-conceitos que todos temos. Acredito que as pessoas podem e devem fazer de tudo um pouco, até para entender o papel dos outros e localizar melhor seu espaço numa cadeia produtiva qualquer! Mas cada um de nós não desenvolve uma coisa melhor do que as outras (e do que as outras pessoas também) e, inclusive, vive disso!
Acredito até que as coisas andam fragmentadas e que a gente estuda vendo tv, ouvindo música, falando ao telefone... mas acredito também que estudar ouvindo música (bem como fazendo outra coisa qualquer) constitui uma experiência diferente de estudar apenas, mas são situações distintas.Todo o esforço feito pela mente é concentrar e focar para dar uma unidade ao fragmentado, impedindo que a musica e o estudo se anulem, tendo em vista realizar uma única atividade.
Portanto, o profissional multifacetado não passa de uma cruel extensão do exemplo supracitado: é um assessor de comunicação (ambientado noas novas tecnologias todas, sabe lidar com Corel, Photoshop, Page Maker, Excell), produtor executivo, recepcionista, bilheteiro e, conforme a necessidade, um técnico, motorista ou telefonista. Mas ele só pode ser uma coisa de cada vez, afinal ele é um só e um é um, dois é dois... um não pode ser dois (a não ser que Stephen Hawking me prove por a+b+delta). Tudo que este coitado tenta fazer é dar uma unidade lógica para o que faz, se não ele enlouquece.
Lembrem que tudo que fazemos remete ao ato de conferir unidade a situações dispersos.
Ler, por exemplo vem de "legere" (colher), alguns defendem que vem de "por junto". E é isso que fazemos quando lemos qualquer coisa: colocamos letras em ordem, colocamos palavras em ordem, identificamos idéias expressas e lhes conferimos significados.
Então porque as pessoas têm que ser multifacetadas? Bom, primeiro porque existe a nossa queria amiga, fogueira da vaidades... e dizer que é uma pessoa bombrill é algo que impõe respeito (para mim mesmo não impõe PN, mas nem todos são iguais a mim).
É bonitinho, mas é ordinário! Pule essa fogueira: seja um profissional arcaico!
Minha vida de trabalhador 1: O profissional multifacetado não é (tão) multifacetado assim
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Elocubrado por Lucas às 11:31 AM
Marcadores: costumes, Cotidiano, textos escritos nas madrugadas sem dormir
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