Metas para 2010

quinta-feira, dezembro 31, 2009

Trabalhar com artesania

Namorar os documentos

Ter mais atenção nas coisas

Viajar

Em Salvador....

sábado, dezembro 26, 2009

Tempo nublado e com cara de chuva... frio que me fez acordar cedo.

Mas é verão! Um sábado de praia... o que não deveria acontecer é ficar cinzento o céu de Amaralina. Se bem que desde ontem o céu está bem cinza e a brisa passou de fresca para fria. Não me incomoda - até gosto de um ventinho mais frio (para os padrões baianos, claro). As árvores (as poucas árvores de Amaralina) estão dançando, as cortinas da sala estão descontroladas. O prédio ao lado é de cor bege. Combinado ao ceú cinza faz tudo parecer a atmosfera de um sonho antigo. Nessa paisagem meio sem cor, apenas duas coisas teimam em ficar: uma camisa laranja na janela do apartamento vizinho e uma borboleta no muro do prédio ao lado. Todo o resto me remete a uma fotógrafia em sépia. Nessas horas, corre-se o risco de "quintanear" e assinar qualquer coisa com a data de 1774, já que fica a sensação de que tudo faz tanto tempo.

Hoje é dia de cuidar de coisas domésticas, sair com a família...

Ontem também foi um dia meio átipico, aliás, os dias desse ano podem ser descritos com essa palavra - para o bem e para o mal. 2009 pode ser descrito também, e pelo que percebi para muita gente além de mim, como o ano das encruzilhadas, de muito desencontro, reencontro, despedidas e encontros organizados pelo acaso. De desafios, de começos, recomeços, de confrontos. Um ano que pediu uma maturidade e jogou na minha cara (e na de muita gente) as limitações.... superar essas dificuldades ficou colocado como uma necessidade de sobrevivência e não como escolha. Seguir adiante, seguir sem medo é, como diz a amiga Juaquina, "tarefa quase impossível". Mas, no entanto, ficar é ainda mais doloroso.

Esse ano algumas de minhas certezas mais sólidas foram abaladas de modo profundo e minhas dúvidas saíram do estágio de fluidez e deslizamento para algo fixo. Líquido e certo.

Deus (ou como você preferir chamar sua Divindade predileta) abençoe quem inventou essa contagem (que mesmo boba) nos permite ordenar a vida em segundos, horas, dias, meses e anos, como se a passagem das horas pudesse ser medida por um relógio ou por um calendário, nos permite dizer que "ano que vem tudo será diferente, será melhor, mais feliz", nos permite ter esperanças e sonhos.

O ano que se mostra diante de mim, embora se exiba cheio de possibilidades em um nível quase narcotizante, já se apresenta, contudo, como algo passado, um amanhã que já é ontem. É tudo tão acelerado e tão cheio de luzes, brilhos, barulhos.... Por que nós aceleramos a nossa vida, como se acelerar resolvesse os problemas? Os carros devem ficar atrás dos bois.

O ano nem chegou e não sei se devo ter esperanças ou se devo desde já me decepcionar - ou criar esperanças falsas, temerosas. Prefiro ter as esperanças, mesmo que isso implique em pagar um preço mais alto, em me arriscar mais. De fato, a única certeza é que não dá pra ficar parado - a vida não espera. Já posso celebrar ter chegado até aqui em um ano tão cheio de reviravoltas, mudanças de rumo, quizilas, gíngis, consumições e tanficâncias. Quem sabe onde eu estarei daqui há um ano? Com quem? O que foi bom vai permancer aqui... mas há como saber precisamente o que é efetivamente bom ou ruim?

Os anos passados também viram tanta coisa passar (coisas boas, coisas ruins). Eu fui com eles, voltei com eles. Agora eu estou aqui.

Esse, repito, foi um ano que exigiu das pessoas superar problemas, vaidades, medos, vergonhas, limitações diversas, testou a humildade. Creio também que os preços serão cobrados em breve, assim como em breve virão as recompensas... as recompensas também cobram um preço, disso não se pode esquecer.

A encruzilhada está aí, não se pode ficar parado diante dela - afinal estamos vivos. Há quem pense que é a porta que escolhe o homem e que o caminho é sempre estreito, mas que alguns ficam cegos e enxergam-no como sendo largo. Há quem diga que é sempre o homem que escolhe o caminho. Há quem diga que não há caminho do meio. Há quem diga que só há o caminho do meio.

Não dá pra pensar, não dá pra respirar, só é permitido seguir em frente... sem nunca fechar as portas, mas sempre queimando as pontes. Sem ensaios, sem rascunho.

Eu vou ao seu encontro.

sexta-feira, dezembro 25, 2009

The fact that you are married, only proves you're my best friend.
(Pale Blue Eyes - Lou Reed)

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Me chame pelo meu nome
Me olhe nos olhos
Me desconcerte
Me desarme
Ignore minha guarda alta
Ignore minhas cicatrizes
Ignore meus medos
E meus pés no chão
Me torne outra vez um menino - me faça o seu menino
Me faça cafuné no final da tarde
Veja um por-do-sol comigo
Me tranquilize no meu despero
Me dê colo depois de um pesadelo
Apareça nos meus sonhos
Esteja comigo quando eu dormir
E me abrace quando eu acordar

He couldn't stay
He's back home, now.
Far away from where he wants to be
But either way
They belong together.
Will they ever meet again?

Correu o rio em meu rosto
Então, levai, Aqueronte,
Mais uma alma em vosso leito!
Afogai o corpo com vossa água
Apagai com água as feições
Calai a boca e silenciai a voz
Ensurdecei os meus ouvidos.

No fundo, na areia, fica a saudade
Nas margens um tímido adeus.
E que morra em vós toda a dúvida e toda a certeza
Quem o rio leva?
Já não me importa.
Eu já estava morto.

Um baiano viajante

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Do alto de minha arrogância, acredito que a vida é pontuada - como diria o sábio Barros de Alencar - "por pequenas coisas", pequenas experiências: comer aquele risotto acompanhado de pessoas bacanas, cozinhar para sua família, assistir aquele filme, um beijo... mas acima de qualquer coisa, acho que a vida é pontuada pelas nossas viagens.

Seja para a Índia ou para a cidade ao lado, viajar implica em se despir de muita coisa e se vestir de outras, já que "em Roma, fazemos como os romanos". É importante o desapego de nossa identidade... risos. Você sai da Bahia e, por exemplo, perde o nome e sua história de vida e se torna simplesmente "o baiano". Claro que até o final, devido às experiências partilhadas no intervalo de tempo que você vive fora, te devolvem o nome - ou até te dão outros - e te conferem uma (nova) história e aceitam a sua história de vida - com todos os filtros e bloqueios, lógico.

O mais importante, a meu ver, é que quando viajamos, nos é permitido alterar radicalmente a rotina, inverter as ordens. Alterar a rotina permite vê-la com outros olhos, percebê-la maior ou menor, simples ou complexa, terrível ou insignificante. De um modo ou de outro, ela é vista no todo - independente disso ser uma coisa ruim ou boa. Só por isso, viajar é algo fundamental para continuar se sentindo vivo, independente de onde ou dos motivos. Se volta diferente de uma viagem, assim como nos transformamos depois de um livro, de um filme ou de um disco. A viagem é capaz de potecializar também essas experiências.

Não se sabe com precisão qual o melhor momento da viagem - há quem diga que é a antecipação, a ansiedade; outros julgam ser mais importantes as experiências vividas e partilhadas nesse intervalo de tempo (aliás, o tempo, quando viajamos, parece ficar suspenso). Alguns votam pela saudade do que ficou e de quem ficou lá no outro porto; outros preferem o retorno, o reencontro. E isso vale para qualquer viagem - trabalho, férias, peregrinação religiosa.

Não consigo perceber com clareza qual o melhor momento, já cada viagem é como se fosse a primeira. Eu penso que a transformação se inicia (seja isso uma coisa boa ou não - isso não é relevante) no primeiro momento em que ela se materializa na forma de um desembolso financeiro para comprar uma passagem (o nome não poderia ser mais preciso) . Nesse momento se projeta tanta coisa... negociamos com os sonhos, com os nossos pés que teimam em ficar no chão (ou vice-versa) e com o mundo. O que levar na bagagem, o que não levar, quais as marcas, quais as idéias... quem se vai conhecer, quais os sabores, os cheiros, os perigos...

Toda viagem nos leva ao desconhecido, e consegue - mesmo que não se queira - superar "o muro e o abismo" que dele nos separa (como já dizia Clarice Lispector). Uma vez superado esse muro não somos mais quem fomos um dia - uma parte ficou olhando o abismo, outra caiu e outra conseguiu chegar do outro lado. Quem volta encontra consigo, mais do que os amigos, família, casa e rotina. Quando eu volto de uma viagem e me olho, mesmo que ao acaso, em um espelho, eu já percebo as (novas) marcas e vejo o que ficou para trás... mesmo que algo que ficou para trás teime em ficar. Além de fotos, presentes, trazemos essas marcas.

A última viagem que fiz foi ocasionada por um profundo desejo de superar problemas que eu - inocentemente - dei maior relevância e poder, por uma vontade de respirar e de aprender, mas acima de tudo, para avaliar e reavaliar. Fui sem antecipar. Fui sem restrições e de peito aberto.
Foram mais de 30 dias de experiências inesquecíveis, de grande aprendizado, de conselhos... eu observei muita coisa com bastante atenção (o que é algo relativamente difícil para mim), andei muito... conheci pessoas bacanas, cozinhei (e aprendi a fazer umas coisas de comer com lágrimas nos olhos), alimentei o nerd que vive dentro de mim assistindo clássicos da ficção científica.... voltei diferente - outra vez. Eu fui de um jeito e voltei melhor. O mais interessante é que em minhas duas despedidas no final dessas férias (farra um dia e jantar no outro), o adeus foi uma palavra condenada por mim... sequer veio em minha cabeça. Será que eu estou mudando até o que achei ser minha sina, dom e maldição? Se for, é bom.

Mesmo assim, dessa vez eu voltei faltando um pedaço...

Isso também é bom. Espero, muito em breve, retornar e pegar essa parte de volta.

sábado, dezembro 05, 2009

Foste tu em princípio um nome
Depois verbo: palavras e voz
Em seguida um rosto
Por fim, corpo
Dois corpos.